sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Entre Um Caos E Outro...


Quisera ter um coração arrojado
portar alegre as minhas penas,
feito as avezinhas tão pequenas,
fazendo festa no arame farpado.

Poder sorrir na cara do destino
e afrontar cada desmando seu.
Segurar as rédeas do comando. 
No tédio gris ver laivos azulinos.

E contra os dias escuros e frios
ter sob a manga um raio de sol.
No tempo oportuno um arrebol
para salvar de dúbios desvarios.

Aos pés dos distúrbios uma flor
plantada bem no olho do furacão.
Entre um caos e outro a canção,
que espante qualquer dissabor.

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 19 de dezembro de 2015

Versos Pelo Chão Molhado





Poesia vem lavrada em gotas de chuva.
Nuvem fria, a enxurrada lava-lágrimas... 
Fértil palavra sobre uma folha em branco
catarseando a ladainha dos dias tristes...
Que chapinha versos pelo chão molhado.

Chega o aguaceiro banhando terra e alma.
É a trovoada que me desterra do cerrado 
e encerrada entre quatro paredes úmidas
deixo o meu caminho cotidiano das flores. 
Eu nem me queixo, tenho livros nas mãos.

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Alma...Viva



Tenho olhos treinados pra ver borboletas.
Determinado empenho em distinguir asas.
O dom para farejar suas trajetórias e voos.
...E se a sorte me favorece encontro flores.

Entre um dia e outro ainda faço um poema.
É onde os dilemas se escondem, traquinas,
numas entrelinhas, acoitados pelas rimas...
que a inspiração, coitada, tão parca escreve.

Então aí a alma se atreve a aparecer, tímida,
ainda coberta pela poeira das intempéries...
Resguardando-se dos arranhões do destino.
Pousa nos versos, dizendo: estou aqui, viva.

Rosemarie Schossig Torres

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Cenário De Brinquedo


A borboleta azul da infância esbarrou em mim!
Dentro do cenário de brinquedo, que invento, 
no céu gira uma esfera amarela, é cata-vento,
que esquenta minhas penas e as do Passarim.
Vem o colibri beija a meiga flor da esperança!
Suga os turvos pensamentos e espalha mel.
Empino a poesia nas linhas, roda um carretel.
Feito pipa toda tristeza sai do chão, balança...
... Entre as nuvens; agora é uma dor distante.
E posso olhar de fora para dentro a desdita.
Nem chora aquela saudade que no ar levita.
Coração ninado nas lembranças vai adiante.
Rosemarie Schossig Torres

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Quando As Margaridas Choram






Ah essa tristeza que lavra a poesia,
represa que eu não quero desbordar,
estancada sob o tapete da memória.
Em cima plantei um canteiro de flores.

E às vezes as margaridas choram...
Uma água que corre fora da estação.
Em pétalas perdidas vão as mágoas .
Voam pelo desvão do tempo passado.

Alegrias que destoam surgem súbitas.
Gravitam na atmosfera, cantos de ave.
Lenitivo suave que acolchoa a vereda.
Rasgo a seda da solidão e sigo adiante.

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 12 de setembro de 2015

Flores Impensadas



A chuva revela flores impensadas...
Cores sepultadas pela poeira do estio.
Grãos renascidos da última queimada,
trazidos de longe por um vento vadio...

Um cheiro macio de terra molhada no ar
fecunda as narinas, instiga imaginações,
irriga amores primaveris que vão chegar.
Rebrota o tapete verde acolhendo botões.

Vão encolhendo as cinzas, saltam tons...
Desde o desvão da estiagem os renovos, 
remoçada a roupagem exibem seus dons.
É a natureza imitando a Fênix de novo!

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Alva Flor Menina


Setembro inicia; a chama segue acesa...
Choram cinzas os bulbos das orquídeas.
Deploram por esse agosto e sua insídia,
cobrindo os campos de fuligem e tristeza.

Lamentam estioladas pétalas indefesas.
Dão risada os abutres, obscuras perfídias:
rebuscar os restos e aproveitar a desídia
do bicho-homem,desleixo é quase vileza.

Mal eu me queixo e a natureza se rebela.
Já apontam corolas por baixo das ruínas.
Espiam um mundo novo, que se revela...

...entre destroços o verde se descortina.
Rompendo o fogo nasce uma Fênix bela.
Apenas parece frágil a alva flor menina...

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 5 de setembro de 2015

A Mimosa E O Fogo




A pequena flor contemplava temerosa o fogo em gulosas labaredas tragando tudo o que via pela frente. Ele sentia tanto prazer nisso que parecia gargalhar. Uma risada rubra e assustadora.
Quando chegou diante da mimosa, ela lhe disse:
- Por favor senhor fogo, não me queime!
A língua de fogo ergueu-se sobre as duas patas e bufou insolente:
- Poderia te esturricar com um suspiro, sua molenga, mas seria um prazer rápido demais!
Então contornou a flor e saiu esbaforido, ainda bufando:
- quero lenha – quero lenha – quero queimar!
A florzinha frágil e fofa acariciada pelas mãos da brisa inclinou-se no que pareceu ser uma mesura de agradecimento, mas ainda preocupada com os ninhos de seus melhores amigos beija-flores.
Por muito tempo ainda se ouvia ao longe a voz ameaçadora e sádica do Língua de Fogo:
- quero lenha – quero lenha – quero queimar!
Até que um vento contrário fez o fogo voltar sobre as suas próprias pegadas. E como nada queima duas vezes fez-se silêncio no cerrado. Um silêncio de luto e cinzas apenas quebrado pelo pompom cor-de-rosa da mimosa flor!

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Recém-nascido De Um Sonho






Poema recém-nascido de um sonho.
A tinta verde-esperança ainda fresca,
sombra da saudade presente-ausente
segue escoltando as minhas palavras...

...e sofro a loucura sã de ser eu mesma.
Na estrada vã de buscar o que me falta,
tão alta estrela, será que vou encontrar...
Que ombro me consolará do irremediável?

Procuro formas amáveis em nuvens densas.
Cinzas carrancudos passeiam nus pelo céu.
Mas esse beija-flor que campeia a meu lado,
adeja suave, convoca bom tempo, bonança. 

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 29 de agosto de 2015

Catando Sonhos




Lua vespertina, sol da meia noite!
Por tantas miragens a alma delirou.
Uma estrela que no dia fez pernoite,
mas o castelo de areia o mar levou.

Fiquei a olhar o céu catando sonhos, 
matando saudade no reflexo do luar,
mostrando o passado mais risonho...
... Um alguém que já não pode estar.

Faltam brilhos, uns afagos, os mimos.
Ora trilho ausência, que abre espaço
nos dias em que distantes dormimos.
Busco no quadrante do céu o regaço.

Rosemarie Schossig Torres

domingo, 23 de agosto de 2015

E A Vida Segue...







Numa esquina da noite,
das estrelas ausentes,
uma alma se encolhe
em pensamentos tristes,
que um vil vento vadio...
varre por debaixo da porta.

O negrume da madrugada
amola o gume da solidão
e um pobre coração silente
quer deixar esse mundo...
Ir aonde não haja sofrimento.

Mas a hora noturna se esgota!
Os fantasmas desaparecem.
A ventania em brisa demudada
não mais dissemina agonias.
O cais é do sol e a vida segue.

Rosemarie Schossig Torres

Por Onde Andei...







Andei buscando a Fênix pelos cemitérios...
Colhi frutos azuis aos pés das intempéries.
A saudade impõe seus retratos aos olhos,
que eu nem sei se são alívios ou abrolhos.

Estranha simbiose entre alegria e tristeza.
A dor perdeu a sanha, ganhou sutilezas...
Talvez seja a minha alergia ao sofrimento
ou apenas o tempo que tudo joga ao vento.

Nessa hora em que estão em voga elegias
poesia quase se abstém, compõe litanias 
e põe nuvem negra sobre os pensamentos.
Chovem nostalgias sobre a alma ao relento.

E se nada é eterno, apenas coração resiste
ao inferno que a ânima cria( o amor persiste).
Um céu de calma parece querer se instalar,
mas não se desfaz o véu sobre o meu olhar. 

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O Cais Da Verdade


Posso falar do ruído absurdo dos canhões;
do homem surdo gritando às borboletas...
Nomear constelações, a lua e os planetas,
sem nunca versificar as minhas solidões...

Eu consigo chorar apenas nas entrelinhas,
até enganar a pena e trapacear com o leitor,
feito o disfarce de um inseto no fundo da flor
e camuflar do mundo as soturnas ladainhas.

Mas ante o espelho a verdade acha seu cais.
Ele reflete a dor, que estala seu relho oculto
açoitando as madrugadas e sou só esse vulto
sonambulando oxidados dilemas fantasmais.

Rosemarie Schossig Torres

domingo, 16 de agosto de 2015

Novo Firmamento


Estranha raiva range com o vento...
Arreganha os dentes, cão de agosto!
Imprecação vã para um réu sem rosto.
Revoltos os céus, trovejam elementos.

Soltos os cachorros, fúria vai sem freio.
Depois passada a procela cai na poesia.
Cinza sai da tela, o duro cenho esvazia.
Rancor suspira, apaziguados os anseios.

Pombas da paz as rimas ensaiam adejos,
nesse novo firmamento, face da bonança.
E a passo lento toda exaltação descansa
pousada nos versos, sorri e manda beijos.

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

AMOR!



Ciciam sentimentos recônditos, sem fala
sibilam entre quatro paredes do universo
presos nas redes dos sonhos submersos.
Só o coração ouve mistério que resvala...

...o hermético segredo que a palavra cala
e livro algum desvenda ... nenhum verso.
É feito acordo tácito de astros dispersos,
num vasto mundo que o silêncio embala.

Arcano que o mar e a areia confabulam,
depois o vento propaga o seu leve rumor
e pelas entrelinhas do tempo perambula...

... Escorre vidas afora, disfarçado clamor.
Os lábios não dizem, só almas formulam
o vocábulo apenas subentendido: Amor!

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Só Um Átimo...


Só um átimo! Tempo vazio de estações.
Horas desapareceram do meu relógio...
Ai, flor confusa que se esqueceu de abrir!
Percebi a vida extraviada do seu destino.

Embaralhando mortificações, perdi o tino.
Aluada embarquei numas densas nuvens
e parti com uma revoada de aves trágicas,
carregando parcos, fugidios pensamentos.

Ignorando o sol, tudo parecia alheio e frio...
E seria eu habitante de um planeta à parte
não fosse por esse sabiá e sua clarineta...
que me devolveu ao chão de mim mesma.

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 25 de julho de 2015

A Uma Árvore Velha



No meio do caminho para o nada,
trilha de passarinhos e poetas...
Estrada de retratistas de sonhos
está uma árvore velha, ainda viva.

Negro tronco, fumo de queimadas,
e nos braços retorcidos, sem prumo...
Já não tem folhas, mas insiste em florir.
Em cada cálice seu dormita um poema.

Frágeis versos de seda que se agitam...
Ágeis feito flâmulas tremulando ao vento
acenam um convite a essa poeta errante,
que sai do seu exílio; impossível recusar!

Rosemarie Schossig Torres

Agora Tenho Um Jardim




Ao meu Amor, onde quer que esteja, um dos artífices meio ''sem querer querendo'' de nosso inusitado jardim...

Eu sonhei um vergel certa vez...
De flores coloridas em canteiros
e com um macio gramado inglês.

Mas me coube bravio espinheiro,
de braços pontiagudos, tão irreal!
Aromas de um deserto estrangeiro.

Foram se armando no meu quintal,
num quebra-cabeças improvisado,
plantas exóticas, o agave e o nopal.

Brotaram cálices amarelos ousados,
dispersados por uma brisa conivente.
Entre os cactos ficaram acotovelados.

E as pimentas de macaco de repente...
surgiram bordadas entre yuccas e pitas.
As frutinhas em pencas feito pingentes.

Chegaram uns mamangás, fazendo fita
e os cambacicas ruidosos num festim,
que pareciam não estar só de visita...

Então vi cortejar a urumbeta, flor carmim,
um balé ornamentado de branco e canela.
Então eu disse: agora tenho um jardim...

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 23 de maio de 2015

Bruxa...Com Asas...



Ah! Ágil figura quixotesca
escultura frágil, borboleta,
que tatua sobre uma folha,
sua leve sombra de fada...

...indelével, não assombra, 
e sim encanta a fotógrafa
e mais se inspira a poetisa...
Mas a palavra logo se retira. 

É ingrata bruxa... com asas.
Esdrúxula, eclipsa a mente
O escrevente mal a percebe
e a idéia serelepe já voou...

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 25 de abril de 2015

Alguma Revoada



Amanheceu...Nenhum pássaro ousou cantar
e um sol indolente mal pousou no horizonte.
Dia de pétalas fechadas, de chove não molha.
Talvez a lua remedando a noite irá escurecer...

Até a poetisa se abstém, emudece meu verso.
Pois um labirinto desceu sobre as palavras...
Já não me distraio com o seu quebra-cabeças.
Olhos no céu buscam apenas alguma revoada.

Pernas incansáveis! Só querem andar e andar!
Ora do lado de dentro mora um bicho preguiça,
que embaralha todas as cordas da inspiração,
com um gesto insolente e um sorriso nos lábios.

Rosemarie Schossig Torres


Evidências Do Caminho Andado


Ai! De tanto remoer as intempéries...
dormem redemoinhos entre-dentes.
Enfileirados, são vendavais em série
à espera de tormentas recorrentes...

Nunca acabo de ruminar fatalidades.
De costas, sinto na nuca turbulências,
que passam em mim a toda velocidade,
tatuam corpo e alma, deixam saliências.

São as evidências do caminho andado,
clarividências da ferida e a sua cicatriz,
que guarda a dor de cada mau bocado
e aquele sabor do quase, por um triz...

Veneno na ponta da língua, verbo arde. 
Vai à míngua poesia, fala inarticulada
em turbilhão algoz, a palavra encarde
com os sapos tragados às colheradas.

E bem no fundo do cofre de Pandora 
resiste a última que morre, ainda viva,
verde metáfora de teimosia, redentora...
Do dia em que hei de voltar à voz ativa...

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Verso Alado Da Fada Que Está De Passagem

Para a amada poetisa Márcia Poesia de Sá que um dia batizou esse beija flor de beija flor Pedra Azul do Céu...Obrigada pela luz!







Parece ser agora de safira... Depois jade...
Um par de asas de ourivesaria emplumada
faíscas verdes, azuis que os olhos invadem
riscam o céu em seu balé de luz matizada...

Como a paleta do artista delirando ao pintar,
surgem pinceladas , que são pura miragem. 
Arco-iris se reinventa seguindo o seu voar...
Verso alado da Fada que está de passagem.

Até a poetisa muda, pena ausente se inspira,
nem sente que é o imã, pedra de fascinação
essa ave que cativa, alma presa nem respira!
De repente a idéia reaviva e sai da proscrição.


Rosemarie Schossig Torres