quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Tesouros Ocultos



Há tesouros ocultos em terrenos baldios.
Tem pontos macios entre dois espinhos:
O espaço perfeito pra pés de passarinho.
Ao rés da intempérie uma seta de desvio.

Então muda-se a meta, troca-se de navio.
No mar do desgosto bordar um barquinho
e aportar nos braços de um novo caminho.
A um passo do desatino some o extravio...

Lá no centro do furacão uma brisa cálida...
Pra se abrigar enquanto passa o vendaval
e bolar com seus botões uma saída válida.

Pois entre os senões de tanto inferno astral
já bruxuleia esperança, vela verde e pálida,
luz acenando que o abismo termina, afinal...

RosemarieSchossig Torres

sábado, 4 de outubro de 2014

Entre Desvelos E Dó


Ah se essa ira que sinto ao mirar o horizonte
queimasse, seria chama contra fogo ardente.
Mas já há furor demais nas labaredas quentes,
que arrasam a terra e destroem o meu monte.

Então me dá uma pena imensa, os olhos doem 
ao ver os escolhos nus, em cinzas a vegetação,
aves sem seus ninhos guincham, desesperação!
Pensamentos compungidos o coração remoem.

Em vez de raiva: uma oração e me tranquilizo...
O vento se ergue qual canção, leva apelos e pó.
Fico fitando a poeira negra , entre desvelos e dó,
vou mãos à obra, apago o ódio, acendo sorrisos.

Rosemarie Schossig Torres

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Delicadeza Entre Espinhos



Prefiro viver do profano modo
a ser múmia sagrada na vida...
Às vezes canto às flores do lodo,
que fazem do mangue via florida.

Veja o cacto! Parece ter ferrões,
mas comete a suma delicadeza
de matar a sede pelos sertões...
O espinho dá lições de gentileza.

Venero os milagres não oficiais,
feitos por mãos rudes, rugosas.
Das que não viram luvas jamais,
mas fazem dádivas prodigiosas.

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Desertos De Concreto


Olho pasma a desconstrução do horizonte.
Até o meu galo, com asma, já não canta...
Ao longe: uma árvore cai; um poste levanta.
Verde se esvai; não reconheço meu monte.

A cerca amplia o endereço, profana jardins;
engatinha movida pela grana das grilagens.
Ágil sobe e desce; ávida come a paisagem.
Cresce na terra o cimento e some o capim.

Por fim, um apito; aumenta meu espanto.
Fito pegadas cinza sujando o teto azul...
Para onde olho, perto; longe; norte e sul:
desertos de concreto; fica o desencanto.

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 13 de setembro de 2014

Utopias E Girassóis No Horizonte



Eu abro as janelas para os sonhos...
Porém apenas intempéries recebo.
Pequenas alegrias que mal percebo.
E só elegias, réquiens componho...

Ao amanhecer um lindo dia proponho.
Mas vai se despedindo o carro de Febo
e vejo que a esperança é mero placebo.
Ao fim avança meu cotidiano tristonho.

Às vezes vislumbro utopias no horizonte,
girassóis, louras alegrias pulando muros,
que olho na distância e atrás os montes.

É doce a fragrância desse ansiado futuro.
Ainda quero crer que tem uma ponte...
entre o que me cabe e esses dias escuros.

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 9 de agosto de 2014

A Última Chamada


Idioma de pássaro itinerante, vaivém ao vento.
Canto de sol e de chuva, avaro em conjunções.
A voz clara, sem nuvens, dá carona às canções.
Trilha sonora da silente borboleta, doce acalento.

Esvoaçam trinos lentamente na tarde, encantada,
pois o dialeto prende...Clarividente aos sentidos,
ponteiam no crepúsculo, sol menor, estremecidos.
Anunciam sem palavras o ocaso, última chamada.

Apenas entoam as aves e já sei de cor a sinfonia.
Conjugo percepções vaporosas, ausentes as falas.
Impressões livres de gaiolas e despidas de galas...
Concerto em cores, despedindo-se de mais um dia.

Escuto, maravilho; sinto simplesmente, até danço.
Estribilhos que provocam as mil primaveras de mim.
Evocam sorrisos, alegorias, metáforas de alfenim.
Já silenciam cantorias,a noite convida ao descanso!

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Sonho A Cores





Num sonho, de fundo multicor...
vi a terra azul dos astronautas,
pintada num mural em flor...
um céu-mar com estrelas nautas.

E nos incrustávamos, esplêndidos,
nesse imenso afresco matizado,
como a pérola num berço colorido,
ostra num firmamento encravado.

Sonhei o nosso planeta, a cores.
Fértil em cantos; feliz e risonho.
Lugar de prosperidades e amores.
Ao fim acordei... Foi só um sonho!


Rosemarie Schossig Torres

terça-feira, 17 de junho de 2014

Resta A Poesia



A morte semeia seus abrolhos, tudo inverna.
Fecharam teus olhos; pernas em prostração.
Até as horas (de chumbo) pararam... eternas.
Entristeceu a primavera, o pássaro, a canção.

O tempo prende o fôlego, solidário, desespera.
Nem pulsa o relógio; em suspenso os corações.
No céu, o ar pára; as emoções destemperam...
...em cascata, num escarcéu, aos borbotões...

Agora só ouço o desalento com seus estrépitos.
A esperança foi com o vento para um outro lugar.
Alegrias proscritas deixaram os risos decrépitos.
E eu já nem sei Amor, onde posso te encontrar.

Aquele mundo que era nosso virou pretérito...
Afogada em tristezas me especializo em elegias.
Abraços vazios, olhos perdidos, sigo o inquérito:
Aonde estás? Em que lua?Só me resta a poesia.

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 11 de junho de 2014

ÀS CEGAS



Abrir caminho entre nuvens negras pudera.
Há um amor, que às cegas, busca o seu par.
Perdi a direção, extraviado sapato de levitar.
Um coração a deriva da tristeza destempera.

Quase viva; meio morta fica no chão a poesia.
Até a fantasia de tristeza fechou as suas asas.
Estão sem cor as alegorias e as idéias: rasas...
Status quo que ousou chamar-se melancolia.

Mas palavras pousam no papel assim mesmo.
Ora fluem lentas... Ou feito corredeiras correm.
Vão refinando mágoas, sentimentos escorrem.
E a dor que não é de aço vai no tempo a esmo.

Rosemarie Schossig Torres

terça-feira, 10 de junho de 2014

AVE SEM ARRIBAÇÃO



Mundo! Um quintal de fugazes visões.
Vendaval; fogem dos olhos, batem asas.
Qual um verso vulgar, com idéias rasas,
passa por mim, vai a outras imaginações.

Roto quebra-cabeças, as cores esvaem.
Logo vem se instalar diferente cenário...
Retinas se re-encantam, quadro vário,
é fotograma frágil, as suas peças caem... 

...No olvido, pois surge um novo retrato.
A minha vida: paisagens em circulação.
Tenho o destino da ave sem arribação,
que perdeu seu rumo, num vôo inexato.

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 17 de maio de 2014

Sentimento Sem Metáforas



Eu sei que não há máscaras para o amor...
Às claras reluz; sentimento sem metáforas.
Odeia trapaças; artimanhas deixa de fora,
rechaça quem se vale de mentiras; traidor.

Coração vê muito além de meras aparências. 
Pondera os gestos, vai mais fundo: no olhar...
E pressente lá nas suas entrelinhas, fulgurar,
o desejo verdadeiro, alma em transparência.

Transcendências de uma emoção essencial...
que transborda pelas beiradas do tempo afora.
A paixão apenas lambe seus pés e vai embora. 
Mas o amor ao rés da eternidade, sorri imortal.

Rosemarie Schossig Torres