quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Rimas Em Revoada




Eu vou dormir cedo, como os passarinhos,
pois junto ao nascer do sol fiz o meu ninho.
Junto brotou um sonho de nuvem e de anil.
A chuva o molhou e um varal de raios mil...

...Secou sua inefável roupa de quimera e lua.
Pés no chão, ignoro o asfalto, atmosfera nua,
de alento e esperança; não dou importância.
Em mim tenho o ombro, suave substancia...

...Que leva e traz mel, adoçando olhos, alma.
Vou versando fé, o afável açúcar que acalma.
Sou ave entoando cantos, rimas em revoada,
pra trinar um amanhã de amáveis  alvoradas.

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Enigma Errante



Abro a janela e a melancolia desvanece,..
Ri e vai embora na asa daquela borboleta.
Parece uma flor arisca ou esquiva violeta,
que antes de se deixar colher desaparece.

E meu olhar se deixa absorver pelo cenário.
Sigo esse enigma errante, uma figura fofa,
meio branca, um tanto cinza, nuvem balofa.
Pensamento menos ranzinza, ao contrário...

...Perde sua compostura e azuleja pelo céu.
Delira nas alturas e olvida um pouco o chão
levado , de mãos dadas com a imaginação.
Foi só um segundo até a tristeza tirar o véu.

Rosemarie Schossig Torres



Palavras Verdes

Saboreio um poema; está só nos preâmbulos.
Dilemas remoídos; fotogramas das retinas...
As idéias que se esparramam pelas esquinas.
Mesclo tudo às minhas emoções num casulo.

Sensações aí circunscritas... Um baú de mim.
Os anseios, afãs são borboletas alvoroçadas,
assediam pensamentos para serem versejadas.
Mas a poesia é tímida e se esconde até o fim...

Palavras ainda verdes borbulham pelas linhas.
Versos fazem cócegas no firmamento da boca.
Vertem sentimentos no papel, alma inequívoca.
O que não pode ser dito ponho nas entrelinhas.

Exponho inspirações brutas; é ode em embrião.
Falta tracejar um corpo; o rosto por desabrochar.
Tenho pressa... inútil; esse tempo é difícil contar.
Mas não importa; cada peça vive em meu coração.

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Devaneio Colorido




Ali na linha mais imaginária do horizonte,
na área onde arde, soberano o disco solar,
nos feixes de raios dourados, áurea fonte,
comigo, braço dado, a  fantasia veio brincar.

E tanto bebeu os matizes no éter impressos,
com os olhos encharcados de ouro e azul céu,
que quase se perdeu do caminho de regresso.
Queria se embriagar no vinho anil desse véu...

Mas sonho virou pesadelo; firmamento fechou.
Tal desvelo pôs alma nesse colorido devaneio,
que nas próprias intempéries quase se afogou.
 E por muito pouco não vira tragédia o passeio.

Rosemarie Schossig Torres

domingo, 2 de setembro de 2012

Os Últimos Azuis






O bem-te-vi vem bordando sua cantoria
sobre os últimos azuis do céu vespertino. 
E suavizam o entardecer as notas, trinos,
avisando que já vai fechar os olhos o dia. 

No céu brancas nuvens de paz hasteadas; 
o verde das árvores esmaece, titubeante .
Prevalece o amarelo de plumas cantantes.
Vejo faixas da nossa bandeira recortadas...

...que se encaixam no cenário em mudança.
Prólogo à esperança e para os sonhos: imã
essa tarde ; logo será noite, depois manhã.
Abrem e fecham as cortinas; tempo avança.

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Pequeno Poema Campestre




Meio dia, um sol trepado no umbigo do céu... Ah!
É hora de lagartear, quando vagam pensamentos.
A viração agita seus ramos num suave movimento.
Crepitam as folhas de um outono que aqui não há...

Então pergunto ao Vento: o que tu trazes para mim?
Zéfiro responde num vaivém que faz rir a vegetação.
Depois lépido se esconde nas nuvens de algodão,
tão brancas que aparecem ...almofadas de alfenim...

São imaginações paridas na primeira brisa da tarde.
O coração acha guarida,levita junto, onírico, bucólico.
 Astro rei revigora meus sonhos já tão melancólicos.
A alma se espreguiça;  seus anseios desencardem.

Bem antes que esse dia levante  seu acampamento.
E a noite elegante venha turvar nossa esfera celeste
deixarei orvalhando meu pequeno poema campestre.
Amanhã virei abraçar o tema, que dormiu ao relento.

Rosemarie Schossig Torres

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Cenário Em Duplicata









Nem na curva da estrada eu verei o monte.
Cega o lilás das quaresmeiras, turva visão.
Um muro de lobeiras e pó negam horizonte.
Estorvando os olhos, dão um nó na amplidão.

Entre os abrolhos apenas adivinho o que virá.
Árvores pequenas e tortas na subida do morro.
Água morta ao fim de seis meses ressuscitará.
Só com as chuvas, sem nenhum outro socorro.

E na vertente entre moitas de capim arroz afinal,
subindo lentamente verei o que há do outro lado.
Cenário em duplicata do meu, de cor quase igual;
mesmos arbustos torcidos e com certo enfado...

...descubro a paisagem sem susto ou surpresas.
A  natureza avara e tosca, sem qualquer sombra.
Folhagem fosca que o sol embacia com crueza...
Só a caliandra ,flor sem primavera, me assombra.

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 17 de março de 2012

Nem Tudo São Flores





Sucedem-se as estações e me ajeito.
Plantei os sonhos na primavera, enfim.
Campo de probabilidades que espreito.
Verão invade tudo... sol impera em mim.

Algo destempera e nem tudo são flores. 
O outono esbarrou em mim, deu o aviso, 
de que o inverno vinha com seus rigores.
E convinha semear após o frio, o granizo.

Chega o estio conduzindo vacas gordas...
Driblo a ressaca da fartura com sapiência. 
Mas prudência sofre o assédio de vil horda.
É o tédio que leva pela mão a impotência.

Com tanta abundância para que trabalhar?.
Os restos da profícua natureza apodrecem.
Só cigarras, nenhuma formiga para guardar.
Enquanto nós dormimos as urtigas crescem.

Ao fim, antes das folhas secas eu me levanto.
Mãe terra, lavrada perdoa as feridas que faço.
Grávida do meu futuro lhe entôo um acalanto.
Abrindo caminhos, amo esse rumo que traço.

Não sou tola para achar que não há espinhos.
Por onde eu andar acharei pedras e tropeços.
Espero não sucumbir com tantos torvelinhos...
No entanto, depois da queda vem o recomeço. 

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Lado Coringa







Fina dama; os tropeços chumbados no gesso. 
É o tempo corroendo a porcelana dos ossos...
E lá nos vales da alma eu suturo os destroços.
Minha fênix aconselha recomeçar pelo avesso...

...De dentro pra fora, nas fronteiras do âmago.
Lá o espírito se entrincheira detrás do coração,
inscrito na essência; um lugar inverso à razão.
Busco transcendências; tirar alegria do embargo.

No lusco fusco da melancolia, esperança morre.
Tentei olhar para trás; recuperar a fé do lodaçal.
Mas o passado caducou; vi suas estátuas de sal.
Ora apelo ao meu lado coringa: vem me socorre!

Rosemarie Schossig Torres

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Poetisa Temática





Penso, considero, então escrevo;
Sinto, ausculto, logo transcrevo...
Sou minhas idéias, poetisa temática.
Métrica? Cabulei aulas de matemática...

Batucam no coração do poeta, os temas
Como cutucam em minha alma, os dilemas.
A caneta derrapa em curvas de des-inspiração
E o piloto tenta não perder o rumo da emoção

Sigo aquele velho caminho; o meu instinto
E a poesia é a estrela-guia, não minto...
Quero derramar no papel meu pensamento,
E feito verso, viajar aos quatro ventos.


Rosemarie Schossig Torres

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Felicidade Com Marcapasso




Eu giro, rodopio qual a bailarina em sua caixinha;
mal respiro ;não arredo do lugar, nem saio da linha.
E nada se modifica... Mas tantas coisas acontecem.
A música nunca muda, enquanto meus pés mexem...

...Sem chegar a parte nenhuma; segue essa guerra... 
Só por migalhas; meus sonhos a existência desterra.
A utopia é fogo de palha; no mais mera sobrevivência.
O jogo jamais se altera; dados viciados; coincidência?

Sem promessas pagas meu fado naufraga rumo ao léu.
O futuro é apenas mais um passo pra bem longe do céu.
E a felicidade com marcapasso dribla as emoções fortes.
Na corda bamba eu calibro a bússola em busca do norte.

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Reinventando A Lua





Alta noite. Vizualizo em pequenas tochas Antares e Sírius.
Flores astrais que desabrocham na ribalta do céu luzente. 
No cais da galáxia atracam luzes; parecem cadentes lírios.
Quisera saber como se colhe a estrela que cai de repente.

E... Penso que bom seria andar com os pés da imaginação.
Naquele quintal azul suspenso peregrinar por sua láctea via,
pra acordar do sonho trazendo a Aldebarã na palma da mão.
Com calma borda alucinação em minhas retinas essa utopia.

Sem pressa delineio  sensações que sobem na pele em flor.
Anseio distinguir cada rincão sideral e esboçar luminoso atlas.
Então depois de percorrer todos os rumos num lisérgico torpor
traço o êxodo das adversidades reinventando a lua... Agora lilás.

Rosemarie Schossig Torres

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Rainha Sem Coroa


Lá vem a bela rosa, de pétalas, bem cingida. 
Toda prosa, o anel de gotas rubi num abraço. 
E à sua volta os espinhos; fel fazendo laços.
Mas o vento vem, suga o seu vinho, sua vida.

Despetalada e daquele rubro colar despida...
Descubro a corola calva, saia feita em pedaços.
E rolam os pontos vermelhos soltos no espaço.
Inúteis os agudos acúleos, nenhuma ferida...

...Fizeram na brisa, que segue por aí valsando,
com os restos da flor...Pingos que voam à toa...
Que vão prestos pra longe do jardim, adejando.

Então fico pensando nessa rainha sem coroa...
Nua, às vésperas de uma primavera, finando,
como o amor que mesmo antes de ser já enjoa.

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Cores Quentes No azulejo Do Oceano


Desce ardente lava, fusão que esvai dos vulcões.
O mar azul desvanece; ondas agora são rubras;
coradas; sentem pejo de que o magma as cubra.
A cascata de lampejo ígneo arde aos borbotões.

Em jatos... Cores quentes no azulejo do oceano;
tintas vermelhas ressumam ;navio já é fantasma.
Centelhas, brumas de fogo, exalam mil miasmas.
Não há viva alma para chorar ao léu o desengano.

Um véu de fumo encarnado cinge todo o horizonte.
Tinge nuvens, são algodões embebidos de sangue.
Feroz cena estendida: do céu, terra até o mangue.
O aceso lume não desculpa nenhuma das fontes...

Daí esculpe no cenário flamas de um matiz unicolor.
Ave que se salvou por um triz agradece suas asas.
Pernas pra que te quero foram cair em covas rasas.
E já nada respira, chama não perdoa, nem faz favor.

Rosemarie Schossig Torres

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Sonhando A Paisagem Em Palavras



Qualquer hora pode ser tempo de colheita.
Veja a abelha :aprimora o sorver do néctar.
Até o sol ,quando aflora, beija; aproveita...
Gotículas do rocio da manhã que vem sugar.

Ainda tíbios raios douram ao vento as flores.
A aragem brincando espalha suas sementes.
Nessa viagem leva pelo ar insetos voadores; 
vaivém coletando ruídos e sabores diferentes.

No céu, a nuvem grávida de chuva se entrega
à terra ávida desses dotes; doce véu líquido... 
Cai... E logo a sede de tantas bocas sossega.
Águas provocam rios, orvalhos, dons límpidos.

Quietinha observo sons e cada movimentação.
Olhos absorvem rumores, tons das imagens.
A tudo o que vejo ponho um nome... Evocação.
Versejo visões; em palavras sonho a paisagem.

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Entre As Réstias Do Marasmo



É sempre arriscado, imaginar tão alto...
Para depois ir esborrachar-me no chão,
desarme do real,que rende minha ilusão.
Reino sem sal; toma a alegria de assalto.

Sobressalto!A vida se impõe por osmose.
Instala, ávida, âncoras; dentes em riste...
Mordem a face feliz do sonho, que desiste.
Restou só a rotina em enfadonha overdose.

Mas, entre réstias do marasmo de concreto,
planto o talvez com mudinhas de quimeras.
O ato falho se infiltra na tez, gestos da fera.
Já se filtra no frio esgar um sorriso discreto...

Rosemarie Schossig Torres