quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Águas Pretéritas



Eu queria cicatrizes com amnésia, olvido,
para não lembrar a nevralgia das chagas.
Dói olhar prá trás; memórias... São adagas.
Talham, remoem histórias de tempos idos.

Fantasmas do passado arrastam correntes.
Avançam exalando ultrapassados desejos;
desfilam lembranças penadas num cortejo.
Em replay... Uma a uma contas pendentes.

É o ontem, me afronta sutil, olhando de viés.
Vejo no retrovisor, aquela infantil candura...
Sinto de novo o que ficou atrás da armadura.
São as águas pretéritas lambendo meus pés.

Mágoas, em marcha ré, voltam ao seu posto.
Encharco-me no vídeo tape de reminiscências.
Às avessas, que bom! O afável da existência,
vez em quando desenha o riso em meu rosto.

Rosemarie Schossig Torres

Flores Murchas Para Um Adeus



Ventos de agosto invadem setembro.
Cortam meu rosto; hirtos os membros.
Coração aflito; nem sinal de primavera.
A leal poesia em compasso de espera...

Na via que traço, sem ti, pobre de mim!
Há uma nuvem, desvia o sol do jardim.
Persigo o verão; mas o inverno insiste.
Melancolia é estação teimosa; persiste.

Queria ao menos o outono, um conforto.
Ninho de folhas secas...O último porto,
para o amor sem sazão, que se perdeu.
Restam flores murchas para um adeus.

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Canção Calada




Vento, porque tiras assim minha calma?
Sopras o desengano pela janela aberta.
E um vazio, insano, invade minha alma,
que nesse instante estava descoberta.

Dentro, meu canto de silêncio absoluto,
recanto onde se encaixa a melancolia...
Entoa canção calada, que só eu escuto.
Toada a modular em dó maior a agonia.

Adverso, do lado de fora, o dia anoitece.
E entre brumas o firmamento faz motim.
Escondido um sol, menor, desaquece.
Peço: tragam o céu de volta prá mim...


Rosemarie Schossig Torres