sábado, 25 de julho de 2015

A Uma Árvore Velha



No meio do caminho para o nada,
trilha de passarinhos e poetas...
Estrada de retratistas de sonhos
está uma árvore velha, ainda viva.

Negro tronco, fumo de queimadas,
e nos braços retorcidos, sem prumo...
Já não tem folhas, mas insiste em florir.
Em cada cálice seu dormita um poema.

Frágeis versos de seda que se agitam...
Ágeis feito flâmulas tremulando ao vento
acenam um convite a essa poeta errante,
que sai do seu exílio; impossível recusar!

Rosemarie Schossig Torres

Agora Tenho Um Jardim




Ao meu Amor, onde quer que esteja, um dos artífices meio ''sem querer querendo'' de nosso inusitado jardim...

Eu sonhei um vergel certa vez...
De flores coloridas em canteiros
e com um macio gramado inglês.

Mas me coube bravio espinheiro,
de braços pontiagudos, tão irreal!
Aromas de um deserto estrangeiro.

Foram se armando no meu quintal,
num quebra-cabeças improvisado,
plantas exóticas, o agave e o nopal.

Brotaram cálices amarelos ousados,
dispersados por uma brisa conivente.
Entre os cactos ficaram acotovelados.

E as pimentas de macaco de repente...
surgiram bordadas entre yuccas e pitas.
As frutinhas em pencas feito pingentes.

Chegaram uns mamangás, fazendo fita
e os cambacicas ruidosos num festim,
que pareciam não estar só de visita...

Então vi cortejar a urumbeta, flor carmim,
um balé ornamentado de branco e canela.
Então eu disse: agora tenho um jardim...

Rosemarie Schossig Torres