terça-feira, 17 de junho de 2014

Resta A Poesia



A morte semeia seus abrolhos, tudo inverna.
Fecharam teus olhos; pernas em prostração.
Até as horas (de chumbo) pararam... eternas.
Entristeceu a primavera, o pássaro, a canção.

O tempo prende o fôlego, solidário, desespera.
Nem pulsa o relógio; em suspenso os corações.
No céu, o ar pára; as emoções destemperam...
...em cascata, num escarcéu, aos borbotões...

Agora só ouço o desalento com seus estrépitos.
A esperança foi com o vento para um outro lugar.
Alegrias proscritas deixaram os risos decrépitos.
E eu já nem sei Amor, onde posso te encontrar.

Aquele mundo que era nosso virou pretérito...
Afogada em tristezas me especializo em elegias.
Abraços vazios, olhos perdidos, sigo o inquérito:
Aonde estás? Em que lua?Só me resta a poesia.

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 11 de junho de 2014

ÀS CEGAS



Abrir caminho entre nuvens negras pudera.
Há um amor, que às cegas, busca o seu par.
Perdi a direção, extraviado sapato de levitar.
Um coração a deriva da tristeza destempera.

Quase viva; meio morta fica no chão a poesia.
Até a fantasia de tristeza fechou as suas asas.
Estão sem cor as alegorias e as idéias: rasas...
Status quo que ousou chamar-se melancolia.

Mas palavras pousam no papel assim mesmo.
Ora fluem lentas... Ou feito corredeiras correm.
Vão refinando mágoas, sentimentos escorrem.
E a dor que não é de aço vai no tempo a esmo.

Rosemarie Schossig Torres

terça-feira, 10 de junho de 2014

AVE SEM ARRIBAÇÃO



Mundo! Um quintal de fugazes visões.
Vendaval; fogem dos olhos, batem asas.
Qual um verso vulgar, com idéias rasas,
passa por mim, vai a outras imaginações.

Roto quebra-cabeças, as cores esvaem.
Logo vem se instalar diferente cenário...
Retinas se re-encantam, quadro vário,
é fotograma frágil, as suas peças caem... 

...No olvido, pois surge um novo retrato.
A minha vida: paisagens em circulação.
Tenho o destino da ave sem arribação,
que perdeu seu rumo, num vôo inexato.

Rosemarie Schossig Torres