quinta-feira, 19 de setembro de 2013

De Tanto Sentir




Imersa na mente, à deriva em seus rodeios,
não faz falta alguma labirintos para se perder.
Olho a paisagem por dentro; há pouco a dizer.
Bem no centro de meu mundo eu me enleio...

De tanto sentir, as palavras são só migalhas.
Agora resta chafurdar na emoção que fervilha.
E a alma bebe afoita cada gole de sua vasilha.
Nada a falar no momento; o verbo atrapalha...

Sentimentos são mudos; sem voz, tudo é tato.
Coração sem escudos, despojado da couraça.
O corpo a um lado dormita, é apenas massa.
E a ânima gravita em seu universo... inexato...

...Enquanto o tempo agoniza, parece parar...
A poetisa se abstém, lira em sopor, suspensa.
O ar delira, oxigênio se detém na tarde densa.
Até o cérebro covarde dizer: é hora de voltar...

Rosemarie Schossig Torres

Entre Bem-te-vis E Sanhaços



Um raio de sol recém- nascido estica o braço...
e entra pela janela junto com um dó sustenido.
Eu chamo: canta passarinho que em teu regaço
quero acordar devagarzinho, felizes os ouvidos...

Ouço na embaúba a onomatopeia do bem-te-vi.
E na árvore ao lado bicos cheios vejo sanhaços.
A voz ocupada entre o trinar e comer uns caquis.
Enlevada escuto  seu gorjeio lançado no espaço.

Ah! Entre tantos chilreios não sei qual escolher;
que cantiga abrirá as cortinas desse novo dia...
Vem sabiá, com o tié, anunciem meu alvorecer.
E o coração, só esperança, se junta à cantoria...

Logo, a Aurora, rósea, pinta a face nova do céu.
Da tinta fresca do firmamento a manhã nasce...
A fé faz as suas preces para o hoje já sem o véu.
Longe o poente desperta; bom dia, beijo sua face. 

Rosemarie Schossig Torres 

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Diva Sonâmbula




Vagueia em mim  negro vulto, sem sono.
Madrugada de veludo, que se descortina
em manto místico ; uma lua clara ilumina,
mas nada desvenda ,o siso em abandono.

Ah! É a Diva sonâmbula que nunca dorme.
Divaga os seus dons com olhos abertos...
e propaga sons, atros ruídos encobertos,
são segredos dispersos pelo breu enorme.

Misterioso desvario, um vento sem nome,
que vaga trazendo alento, depois é asfixia.
Amiga estranha; quase a dês-companhia.
Santa e vadia, ladina passeia a sua fome...

...sobre o insone que se atreve a desvelar.
Pousa na íris silhueta, cifra importuna tece
a tez  noturna, delírios que no dia esquece. 
 Volta à noite, porque é hora de ressuscitar.

Rosemarie Schossig Torres