quinta-feira, 21 de abril de 2011

Os Ardis Do Tempo



O tempo passou e ninguém viu.
Vento que desfolha calendários,
vai despetalando as horas, a fio.
Uma por uma, feito um rosário.

Tempestade de areia importuna,
revoluciona a minha ampulheta.
Ranheta aciona as pás a fortuna.
No fim faz o que dá na veneta...

Velozes voam os dias, de roldão.
Deixam só no borrão os sonhos,
qual pipa que não sai do chão...
Restam miúdos planos tristonhos.

Prestos, vão precários anos, no ar.
Cai no desvão desse deserto diário
a semente que eu pensei plantar...
Nem sei aonde me leva esse fadário.

Só o espelho nada esconde de mim.
Em sua face burilada vejo a verdade:
As linhas que nascem sob o carmim;
ardis do tempo, sabotando vaidades.

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 6 de abril de 2011

No Fio Da Navalha



Tontas, as idéias divagam, em estilhaços.
Sem nexo, como paridas pela incoerência.
Junto, palavras naufragam, aos pedaços.
Poetisa descaída, o verso em insolvência.

São dias sem pé, nem cabeça, a distribuir
nuvens; movem dês-bocadas alegrias...
Amordaçadas; já não têm por onde sorrir.
Lá fora, calor do sol se esconde; luz vazia.

Tristeza em alta; mil caras, tantos esgares.
Marés de azar levaram a sorte, que falha.
E pelo ar só frases abruptas; frios olhares.
Quase ganham a luta, no fio da navalha...

É... Por um triz, não nos enlaça essa teia.
Alma, ainda baça, nega até o fim ser infeliz.
Com mínimo facho de luz acende candeias.
E lá debaixo, do abismo, renasce da... raiz.

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Minúscula Fração De Um Querer Gigante


Ah! Coração apaixonado pelo seu próprio amor,

enredado nos opróbrios da dor; desejo é a teia.

A cruel aranha da paixão te picou bem na veia...

O corpo, nosso castelo fiel, se assanha no ardor.


Nesse anelo, vai à deriva, minha’lma de poetisa.

E cai dos olhos a pena que o seu pesar derrama.

A mão lavra os versos que a emoção declama...

Ah! Sentimento adverso, só a palavra te suaviza.


Em teu fogo ardo e antes que me mate: escrevo.

Bate forte, terno músculo, pra que o anseio cante!

E um poema, minúscula fração do querer gigante,

que palpita em nós, se converta em verbal enlevo.


Rosemarie Schossig Torres