domingo, 25 de setembro de 2011

Rimas Com O Fogo





A serra azul que era verde, agora é parda.
Recados do vento, campo afora, nefastos.
Ordenam sem tento: Que o cerrado arda!
Pira inapagável; esturricados seus pastos.

É brisa nada afável, faz rimas com o fogo.
Em lufadas arrasta chamas, deixa cinzas.
Nada a afasta de seu alvo; nenhum rogo.
Ninguém está salvo das flamas ranzinzas.

Calvo meu monte, coberto pela poeira gris.
As chuvas incertas, invisíveis no calendário.
Desbotados verdes; esperança sem matiz.
Um sinistro pintor borrou nuvens do cenário.

Sobrou a ave lamentando seu ninho perdido.
A última árvore de pé já não possui as ramas.
Queima o panorama; a destroços foi reduzido.
Em alvoroço, natureza em seu palco, reclama.

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Poeta E A Lua




O poeta em sonho breve,
ao olhar triste a lua,
em sua face de neve
 vê bela musa toda nua...

Suspira evocações prateadas.
Em seus olhos bóiam brumas.

Diva no meio do céu
vestida de luminescências;
envolta em esgarçado véu;
nuvens de gaze e transparências.

Transpira aura diáfana a madrugada,
que a musa convoca e logo ressuma.

Seu coração, então vaga.
Vai inventando amores...
E a mente, junto, divaga.
Imagens puras; sem cores.

Respira devaneios em baforadas,
que a noite sem estrelas perfuma...

E o bardo lamenta a distância
de sua musa clara, transparente.
Quisera ser ele uma fragrância;
envolver o corpo luminescente.

Lira de transparências rimando; vem a alvorada.
O poeta guarda a musa num véu que não esfuma...

Rosemarie Schossig Torres

Neblinas Da Alma




A lua exagera os seus dons de mistério...
Destemperam os tons... De pernas pro ar!
Eu vou junto e me governa o despautério.
Entre neblinas da alma vejo velas no mar.

Desconheço si se ilumina a escuridão...
Ou o breu escurece a luz; sem explicação!

Os estilhaços do meu espelho sugerem:
Existem muitas mais dentro de mim agora.
Sonho tragou o mundo, miragens ferem...
O que é nítido agonizou à margem, lá fora.

Já nem sei o que é reflexo, representação
e o que é imagem; verdade ou dissimulação?

A superfície declina, em coma no pantanal;
mar interno subiu à tona, mostra a sua face.
Incerteza! As brumas tomam conta do real...
Tudo é espanto; às tontas busco o desenlace.

Vagando, eu ainda não sei se vivo ou deliro...
Chão esquivo; não há nenhum lugar seguro,
enquanto não sair o sol, inteiro, de seu retiro.
Ainda quero ver o luzeiro emergir do escuro.

Rosemarie Schossig Torres