sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Antes Das Nuvens



Antes das nuvens, há dois pares de asas,
como que puxando bois, trazendo a chuva.
Logo rangerão raios sobre nossas casas...
das sombras fofas, negras, roupa de viúva.

Talvez culpa do sol tímido, indeciso, oculto...
buscando moitas pra abrigar o riso amarelo,
que se acoita nos nimbos de duvidoso vulto,
enquanto um deus trovão bate o seu martelo.

Então algodões nada doces, sujos de cinzas
cobrirão o cenho do céu;dirão: vem tormenta!
E as aves do início, como arautos ranzinzas...
já estarão longe, noutro céu, onde nem venta.

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Devaneio Sem Freio



Imaginação surfa pelas nuvens, mas cai...
Perde gás, derrapa em curvas de horizonte.
E escorrem olhos nas encostas dos montes,
se enroscam naquela fumaça que se esvai.

Tudo porque vi uma janela aberta para mim.
A mente criou asas, bebeu oxigênio azul céu.
Paisagem me abraçou descerrando seu véu;
alçou cores, ganharam vida, fizeram motim...

Embaralhado o cenário, ficou anil a grama,
verde o firmamento , o morro se avermelhou,
com a tinta das turneras e a flor acinzentou...
A íris, faminta,a tantos matizes se amalgama.

O delírio faz a cama, onde a poetisa se deita.
Por enquanto estou nesse devaneio sem freio,
até que uma estrela, aterrissada de permeio,
impeça o caminho e a mágica seja desfeita...

Rosemarie Schossig Torres

domingo, 6 de outubro de 2013

Labirinto De Papel




Eu espreito os pequenos perigos que me rodeiam.
São venenos tão amenos, que parecem remédios,
toxinas do tal cotidiano vão infectando com tédio...
Todos os meus planos e braços já não os enleiam.

Espio os passos dos contratempos chegando perto.
Velhos inimigos, ameaças rotineiras sempre iguais.
Não matam a hospedeira, mas entristecem demais.
Tecem redes, estrangulam a alegria, vira deserto...

...a esperança de escapulir desse labirinto de papel.
Quisera eu decifrar tal torre de babel ao rés do chão,
o tapete que transporta meus pés rumo à desilusão.
Coração bate em falsete, um descompassado tropel.

Mas vou vigiando esse anão que se agiganta, é água,
tanto bate até que fura o desejo de escapar da apatia.
Já arquiteto a ação de despejo para expulsar a arrelia,
dejeto estorvando o caminho e distribuindo mágoas...

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 5 de outubro de 2013

Sem Medo




Qual aquela flor que se entrega...
ao vento, à borboleta que acaricia,
dôo-me à luz, advento do novo dia.
Ao sol que irradia e no céu trafega.

É arrebol, já estou pronta pro acerto.
E se desponta um erro, tão humano,
aceito com o coração inteiro e sano,
sem medo nenhum do desconcerto.

À noite, luz em degredo, descanso...
Sou o que sou, não importam rumos.
Abro as portas ao sonho, o prumo...
Que ajeita meu caminho. Daí avanço.

Rosemarie Schossig Torres

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

De Tanto Sentir




Imersa na mente, à deriva em seus rodeios,
não faz falta alguma labirintos para se perder.
Olho a paisagem por dentro; há pouco a dizer.
Bem no centro de meu mundo eu me enleio...

De tanto sentir, as palavras são só migalhas.
Agora resta chafurdar na emoção que fervilha.
E a alma bebe afoita cada gole de sua vasilha.
Nada a falar no momento; o verbo atrapalha...

Sentimentos são mudos; sem voz, tudo é tato.
Coração sem escudos, despojado da couraça.
O corpo a um lado dormita, é apenas massa.
E a ânima gravita em seu universo... inexato...

...Enquanto o tempo agoniza, parece parar...
A poetisa se abstém, lira em sopor, suspensa.
O ar delira, oxigênio se detém na tarde densa.
Até o cérebro covarde dizer: é hora de voltar...

Rosemarie Schossig Torres

Entre Bem-te-vis E Sanhaços



Um raio de sol recém- nascido estica o braço...
e entra pela janela junto com um dó sustenido.
Eu chamo: canta passarinho que em teu regaço
quero acordar devagarzinho, felizes os ouvidos...

Ouço na embaúba a onomatopeia do bem-te-vi.
E na árvore ao lado bicos cheios vejo sanhaços.
A voz ocupada entre o trinar e comer uns caquis.
Enlevada escuto  seu gorjeio lançado no espaço.

Ah! Entre tantos chilreios não sei qual escolher;
que cantiga abrirá as cortinas desse novo dia...
Vem sabiá, com o tié, anunciem meu alvorecer.
E o coração, só esperança, se junta à cantoria...

Logo, a Aurora, rósea, pinta a face nova do céu.
Da tinta fresca do firmamento a manhã nasce...
A fé faz as suas preces para o hoje já sem o véu.
Longe o poente desperta; bom dia, beijo sua face. 

Rosemarie Schossig Torres 

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Diva Sonâmbula




Vagueia em mim  negro vulto, sem sono.
Madrugada de veludo, que se descortina
em manto místico ; uma lua clara ilumina,
mas nada desvenda ,o siso em abandono.

Ah! É a Diva sonâmbula que nunca dorme.
Divaga os seus dons com olhos abertos...
e propaga sons, atros ruídos encobertos,
são segredos dispersos pelo breu enorme.

Misterioso desvario, um vento sem nome,
que vaga trazendo alento, depois é asfixia.
Amiga estranha; quase a dês-companhia.
Santa e vadia, ladina passeia a sua fome...

...sobre o insone que se atreve a desvelar.
Pousa na íris silhueta, cifra importuna tece
a tez  noturna, delírios que no dia esquece. 
 Volta à noite, porque é hora de ressuscitar.

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O Relógio Da Natureza




Ergueu sua morada com uma trincheira de flores.
Apenas o vento vez em quando lhe fazia a guerra,
despetalando corolas, desmanchando suas cores.
Logo mudou o tempo, a chuva encharcando a terra.

Perto da barreira florida ergueu de barro o barracão.
Um humilde ninho para o inverno de folhas pálidas.
Cálido teto a sonhar primaveras, hibernar o coração.
Ao relento pétalas esvaiam, gota a gota, esquálidas.

Até que a natura deu corda no relógio e soou o alerta.
Veio a Aurora nova de rosto corado, revigorando ares.
A rosa bebê boceja entre espinhos. E tudo desperta!
Então, abriu as janelas, trinou os primeiros cantares.

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Desejos Em Revoada





O dia já se espreguiça no horizonte.
O sol atiça seu pavio; acende o céu.
Toada de trinados desperta o monte.
A Aurora mostra o rosto; tira o véu...

O rocio limpa o breu da madrugada.
Reverdece, tinta nova, a esperança.
E se renovam os desejos em revoada
Voejo confiante qual riso de criança.

Entoando promessas repicam guizos. 
Vem a manhã mostrando o que tem...
A alma louçã pressente,  crê no aviso,
de que o hoje será melhor que ontem. 

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Fim E Início...





Um canto de ave se insinua, fascina os sentidos.
Sua voz de pluma me ensina alvoreceres suaves,
hinos compartilhados sob um sol  recém-nascido.
E o arrebol  abre suas cortinas; o dia vira a chave...

... Escancara as portas; o rocio lava o breu noturno.
Já se esfuma o fantasma daquele último pesadelo.
Frio letargo da noite calça os ensolarados coturnos,
vira correria; encargos; afazeres pedindo desvelos...

Veloz a manhã passa o seu bastão de revezamento.
A tarde ainda um pouco modorrenta segue seu ofício,
afoita, pisa no acelerador , comanda até o momento...
De cair aos pés do crepúsculo;juntam-se  fim e início.

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Caleidoscópio



Na roda da vertigem giram as miragens.
Caleidoscópio de imagens, em rodopio,
ofuscando os olhos; a imaginação no cio
move os moinhos ; unta as engrenagens.

Ah! Pás da ilusão pra onde me carregam?
Ideias rondam, vão soletrando palavras;
círculo gentil, que a poetisa em mim lavra.
É carrossel sutil onde a fantasia trafega...

São figuras parindo o verbo, virando verso.
É o meu cenário converso numa lírica viva.
Delírios latejam numa pulsação que cativa.
E eu fico presa nessa teia, coração imerso.

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Pequeno Instante Quase Feliz





De repente , coração se abriu, fui além de mim.
Pelas janelas descerradas, silente o sol entrou.
Cruzou trevas interiores e minha ânima dançou
sob um céu azul, os pés nus no verde capim...

Alma descalça vi os girassóis saltando muros, 
driblando invernos; pulando a cerca do outono
Implantando a primavera (maio no abandono),
pra imperar desde sempre, sem hora ou futuro.

Agora, status quo que parece eterno, radiante.
Pequeno instante que se agiganta, quase feliz.
E tudo ao redor canta, sorri e junto pede bis...
Dó que o momento passa; tempo segue adiante!  

Rosemarie Schossig Torres

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Como Uma Pluma...





Sem pressa, como uma pluma
dessa nuvem; feito floco sou...
Aflição sem efeito; vento levou.
Zéfiro os tormentos desarruma.

Lento nevoeiro, berço de espuma,
que minha dor pelo avesso virou.
Em seu alvor a alma se aninhou.
Aura em calma todo breu esfuma.

Por fortuna a paz comigo repousa.
Dormente jaz o sofrimento que doía.
Agonia sem gás noutra via pousa.

Lá atrás, ao relento, desgosto esfria.
Monstro deposto, retornar não ousa.
Esquivo o rosto ao azar; vem alegria!


Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Versos E Cores




Quantos horizontes cabem numa mesma paisagem?
Uma colcha de retalhos, relva de veludo; céu de cetim.
Selva verde em dégradé; desabrocham azuis sem fim. 
Olhos se perdem para o sonho achar suas imagens...

E o cenário em quebra-cabeça embaralha linguagens.
O cinza faz chuá nas nuvens que antes eram alfenim.
Em cada quadrante do panorama um diferente jardim
Fragmentos de imagético tecido patrocinando viagens.

Que painéis são esses onde se irmanam tais visões?
Chegam delírios com seus pinceis, delineiam poesias.
Semeiam versos e cores, azeitam fluídos; sensações.

Um poema que corre nas veias (rendido) se contagia
Abraça novos matizes para minhas antigas emoções.
Dentro e fora se enlaçam felizes, suspiram harmonias.

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Como A Pena Ao Vento





Dormir com a lua e despertar com o sol. 
Ah! Pudera não fazer tantas perguntas...
Grandes questões já nascem defuntas,
afundam no canto do primeiro rouxinol.

E é tão fácil! Abrir as janelas para a vida.
Aspirar  seu raio de luz; plenos sentidos.
Escutar sua música; abertos os ouvidos.
O coração desperto, a alma embevecida.

Borrar os sisudos pontos de interrogação. 
Trocar por um sorriso lépido nos lábios...
Ao estrépido da rua fechar os alfarrábios.
E simplesmente aproveitar cada ocasião...

Sem porquês; pra que saber de onde vem?
Nada entender... existir como pássaro , flor.
Livre como a pena ao vento, seja como for...
Criança ressuscitada à deriva das nuvens.

Rosemarie Schossig Torres