sábado, 12 de setembro de 2015

Flores Impensadas



A chuva revela flores impensadas...
Cores sepultadas pela poeira do estio.
Grãos renascidos da última queimada,
trazidos de longe por um vento vadio...

Um cheiro macio de terra molhada no ar
fecunda as narinas, instiga imaginações,
irriga amores primaveris que vão chegar.
Rebrota o tapete verde acolhendo botões.

Vão encolhendo as cinzas, saltam tons...
Desde o desvão da estiagem os renovos, 
remoçada a roupagem exibem seus dons.
É a natureza imitando a Fênix de novo!

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Alva Flor Menina


Setembro inicia; a chama segue acesa...
Choram cinzas os bulbos das orquídeas.
Deploram por esse agosto e sua insídia,
cobrindo os campos de fuligem e tristeza.

Lamentam estioladas pétalas indefesas.
Dão risada os abutres, obscuras perfídias:
rebuscar os restos e aproveitar a desídia
do bicho-homem,desleixo é quase vileza.

Mal eu me queixo e a natureza se rebela.
Já apontam corolas por baixo das ruínas.
Espiam um mundo novo, que se revela...

...entre destroços o verde se descortina.
Rompendo o fogo nasce uma Fênix bela.
Apenas parece frágil a alva flor menina...

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 5 de setembro de 2015

A Mimosa E O Fogo




A pequena flor contemplava temerosa o fogo em gulosas labaredas tragando tudo o que via pela frente. Ele sentia tanto prazer nisso que parecia gargalhar. Uma risada rubra e assustadora.
Quando chegou diante da mimosa, ela lhe disse:
- Por favor senhor fogo, não me queime!
A língua de fogo ergueu-se sobre as duas patas e bufou insolente:
- Poderia te esturricar com um suspiro, sua molenga, mas seria um prazer rápido demais!
Então contornou a flor e saiu esbaforido, ainda bufando:
- quero lenha – quero lenha – quero queimar!
A florzinha frágil e fofa acariciada pelas mãos da brisa inclinou-se no que pareceu ser uma mesura de agradecimento, mas ainda preocupada com os ninhos de seus melhores amigos beija-flores.
Por muito tempo ainda se ouvia ao longe a voz ameaçadora e sádica do Língua de Fogo:
- quero lenha – quero lenha – quero queimar!
Até que um vento contrário fez o fogo voltar sobre as suas próprias pegadas. E como nada queima duas vezes fez-se silêncio no cerrado. Um silêncio de luto e cinzas apenas quebrado pelo pompom cor-de-rosa da mimosa flor!

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Recém-nascido De Um Sonho






Poema recém-nascido de um sonho.
A tinta verde-esperança ainda fresca,
sombra da saudade presente-ausente
segue escoltando as minhas palavras...

...e sofro a loucura sã de ser eu mesma.
Na estrada vã de buscar o que me falta,
tão alta estrela, será que vou encontrar...
Que ombro me consolará do irremediável?

Procuro formas amáveis em nuvens densas.
Cinzas carrancudos passeiam nus pelo céu.
Mas esse beija-flor que campeia a meu lado,
adeja suave, convoca bom tempo, bonança. 

Rosemarie Schossig Torres