terça-feira, 23 de setembro de 2014

Delicadeza Entre Espinhos



Prefiro viver do profano modo
a ser múmia sagrada na vida...
Às vezes canto às flores do lodo,
que fazem do mangue via florida.

Veja o cacto! Parece ter ferrões,
mas comete a suma delicadeza
de matar a sede pelos sertões...
O espinho dá lições de gentileza.

Venero os milagres não oficiais,
feitos por mãos rudes, rugosas.
Das que não viram luvas jamais,
mas fazem dádivas prodigiosas.

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Desertos De Concreto


Olho pasma a desconstrução do horizonte.
Até o meu galo, com asma, já não canta...
Ao longe: uma árvore cai; um poste levanta.
Verde se esvai; não reconheço meu monte.

A cerca amplia o endereço, profana jardins;
engatinha movida pela grana das grilagens.
Ágil sobe e desce; ávida come a paisagem.
Cresce na terra o cimento e some o capim.

Por fim, um apito; aumenta meu espanto.
Fito pegadas cinza sujando o teto azul...
Para onde olho, perto; longe; norte e sul:
desertos de concreto; fica o desencanto.

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 13 de setembro de 2014

Utopias E Girassóis No Horizonte



Eu abro as janelas para os sonhos...
Porém apenas intempéries recebo.
Pequenas alegrias que mal percebo.
E só elegias, réquiens componho...

Ao amanhecer um lindo dia proponho.
Mas vai se despedindo o carro de Febo
e vejo que a esperança é mero placebo.
Ao fim avança meu cotidiano tristonho.

Às vezes vislumbro utopias no horizonte,
girassóis, louras alegrias pulando muros,
que olho na distância e atrás os montes.

É doce a fragrância desse ansiado futuro.
Ainda quero crer que tem uma ponte...
entre o que me cabe e esses dias escuros.

Rosemarie Schossig Torres