sábado, 29 de agosto de 2015

Catando Sonhos




Lua vespertina, sol da meia noite!
Por tantas miragens a alma delirou.
Uma estrela que no dia fez pernoite,
mas o castelo de areia o mar levou.

Fiquei a olhar o céu catando sonhos, 
matando saudade no reflexo do luar,
mostrando o passado mais risonho...
... Um alguém que já não pode estar.

Faltam brilhos, uns afagos, os mimos.
Ora trilho ausência, que abre espaço
nos dias em que distantes dormimos.
Busco no quadrante do céu o regaço.

Rosemarie Schossig Torres

domingo, 23 de agosto de 2015

E A Vida Segue...







Numa esquina da noite,
das estrelas ausentes,
uma alma se encolhe
em pensamentos tristes,
que um vil vento vadio...
varre por debaixo da porta.

O negrume da madrugada
amola o gume da solidão
e um pobre coração silente
quer deixar esse mundo...
Ir aonde não haja sofrimento.

Mas a hora noturna se esgota!
Os fantasmas desaparecem.
A ventania em brisa demudada
não mais dissemina agonias.
O cais é do sol e a vida segue.

Rosemarie Schossig Torres

Por Onde Andei...







Andei buscando a Fênix pelos cemitérios...
Colhi frutos azuis aos pés das intempéries.
A saudade impõe seus retratos aos olhos,
que eu nem sei se são alívios ou abrolhos.

Estranha simbiose entre alegria e tristeza.
A dor perdeu a sanha, ganhou sutilezas...
Talvez seja a minha alergia ao sofrimento
ou apenas o tempo que tudo joga ao vento.

Nessa hora em que estão em voga elegias
poesia quase se abstém, compõe litanias 
e põe nuvem negra sobre os pensamentos.
Chovem nostalgias sobre a alma ao relento.

E se nada é eterno, apenas coração resiste
ao inferno que a ânima cria( o amor persiste).
Um céu de calma parece querer se instalar,
mas não se desfaz o véu sobre o meu olhar. 

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O Cais Da Verdade


Posso falar do ruído absurdo dos canhões;
do homem surdo gritando às borboletas...
Nomear constelações, a lua e os planetas,
sem nunca versificar as minhas solidões...

Eu consigo chorar apenas nas entrelinhas,
até enganar a pena e trapacear com o leitor,
feito o disfarce de um inseto no fundo da flor
e camuflar do mundo as soturnas ladainhas.

Mas ante o espelho a verdade acha seu cais.
Ele reflete a dor, que estala seu relho oculto
açoitando as madrugadas e sou só esse vulto
sonambulando oxidados dilemas fantasmais.

Rosemarie Schossig Torres

domingo, 16 de agosto de 2015

Novo Firmamento


Estranha raiva range com o vento...
Arreganha os dentes, cão de agosto!
Imprecação vã para um réu sem rosto.
Revoltos os céus, trovejam elementos.

Soltos os cachorros, fúria vai sem freio.
Depois passada a procela cai na poesia.
Cinza sai da tela, o duro cenho esvazia.
Rancor suspira, apaziguados os anseios.

Pombas da paz as rimas ensaiam adejos,
nesse novo firmamento, face da bonança.
E a passo lento toda exaltação descansa
pousada nos versos, sorri e manda beijos.

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

AMOR!



Ciciam sentimentos recônditos, sem fala
sibilam entre quatro paredes do universo
presos nas redes dos sonhos submersos.
Só o coração ouve mistério que resvala...

...o hermético segredo que a palavra cala
e livro algum desvenda ... nenhum verso.
É feito acordo tácito de astros dispersos,
num vasto mundo que o silêncio embala.

Arcano que o mar e a areia confabulam,
depois o vento propaga o seu leve rumor
e pelas entrelinhas do tempo perambula...

... Escorre vidas afora, disfarçado clamor.
Os lábios não dizem, só almas formulam
o vocábulo apenas subentendido: Amor!

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Só Um Átimo...


Só um átimo! Tempo vazio de estações.
Horas desapareceram do meu relógio...
Ai, flor confusa que se esqueceu de abrir!
Percebi a vida extraviada do seu destino.

Embaralhando mortificações, perdi o tino.
Aluada embarquei numas densas nuvens
e parti com uma revoada de aves trágicas,
carregando parcos, fugidios pensamentos.

Ignorando o sol, tudo parecia alheio e frio...
E seria eu habitante de um planeta à parte
não fosse por esse sabiá e sua clarineta...
que me devolveu ao chão de mim mesma.

Rosemarie Schossig Torres