Ai! De tanto remoer as intempéries...
dormem redemoinhos entre-dentes.
Enfileirados, são vendavais em série
à espera de tormentas recorrentes...
Nunca acabo de ruminar fatalidades.
De costas, sinto na nuca turbulências,
que passam em mim a toda velocidade,
tatuam corpo e alma, deixam saliências.
São as evidências do caminho andado,
clarividências da ferida e a sua cicatriz,
que guarda a dor de cada mau bocado
e aquele sabor do quase, por um triz...
Veneno na ponta da língua, verbo arde.
Vai à míngua poesia, fala inarticulada
em turbilhão algoz, a palavra encarde
com os sapos tragados às colheradas.
E bem no fundo do cofre de Pandora
resiste a última que morre, ainda viva,
verde metáfora de teimosia, redentora...
Do dia em que hei de voltar à voz ativa...
Rosemarie Schossig Torres
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