domingo, 11 de dezembro de 2011

Despetalando Fantasias...



Invento fórmula secreta a despertar primaveras.
E meus olhos alertas se assentam no horizonte.
Crio pontes, pés de vento, a imaginação impera.
Quisera eu saber o que tem atrás desse monte.

E jaz no limbo do esquecimento mais um dia...
Existirá uma senha para dizer à noite... Acorda?
A alma se empenha em despetalar sua fantasia,
essa que a lembrança ante tal cenário recorda...

...opressa: madrugadas céu... Outras um inferno.
Lembro que dentro já fui sol, mas chuva também,
quando a tarde linda ofendia meu dilúvio interno.
Mas tudo finda; é hora feliz e nem vejo a nuvem. 

Rosemarie Schossig Torres 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Distinto Céu



Meus olhos se magoam, doloridos,
com a visão de tantas desgraças.
Nas janelas da alma soam gemidos,
mazelas; são estilhaçadas vidraças.

Talvez culpa dessa vida maltrapilha,
de tez amarelada;utopias submersas,
feito barca encalhada em sinistra ilha,
onde fatos e sonhos vão vias inversas.

Quem sabe não estaria vendo errado?
Quiçá a miopia minha não saiba olhar...
e entre as nuvens caiba um outro fado;
estrela nova para distinto céu inaugurar.

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 26 de novembro de 2011

O Poço Do Pretérito





Não é só o pescoço que dói ao olhar prá trás...
E como lastimam as saudades dos anos moços!
Tudo culpa da memória, esse fantasma contumaz.
Plasma idas trajetórias; deixa a alma em alvoroço.

Vou caindo no poço do pretérito sempre imperfeito.
Ressuscitam as feridas, antes de serem cicatrizes.
Desfilam maus e bons slides ; videotape mal feito.
Então ardemos olhos agora tristes, depois felizes.

Um decrépito moinho, que de repente desenferruja.
Vale outra vez aquilo que durante anos não se sente.
Sensações projetadas na tela do retrovisor, garatujas
mal traçadas no rosto de um assombrado presente.

Rei posto; tempo passado, faz uma sombra enorme,
que às vezes desata a rir, mas outras leva às lágrimas.
Escombros de histórias inexatas em flashes disformes.
As cinzas revivem, então revejo as glórias e as lástimas.

Chip nostálgico, é um copião do texto pela vida redigido.
Encaro essa flor antropofágica comendo o que me restou,
corroendo o meu futuro; está cada vez menor... Encolhido.
Dói a nuca, mas isso é fatal, pois a melhor parte já passou.

Rosemarie Schossig Torres

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

À Verdade Sem Subterfugio









                                                         
Uma brisa estranha entra na janela interior.
Vem e espalha por meu pequeno universo
tudo o que colheu além, pelo léu, disperso.
Um cicio, vozes, o aroma de misteriosa flor.

E folha a folha abre o meu livro esse vento.
Nascem centos de finas páginas, ilegíveis,
linhas táteis; aí vou tocar pontos sensíveis.
Emoções de gás que brotam de momentos.

Mínimas porções... Filamentos que sentem!
Um vaivém de novas sensações, sementes,
dos futuros gestos, amores; a ânima silente.
Luas manifestas em meu jardim se refletem.

... Chegam aqui neste lugar, o último refúgio,
aonde finda todo o corpo e principia a alma.
Meu derradeiro limite entre o dentro e o fora.
Aqui me entrego, à verdade sem subterfúgio.

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

FLOR NUA



Algo diferente paira no ar; em mutação.
E num strip-tease perco partes minhas.
Mas não me preocupa essa denudação.
Só me desocupo daquilo que definha...

... que sem pena despejo; descartável.
E meu desejo estancado por tantos nós!
Preciso desatar! Trilha; via intransitável.
Estou encolhida de frio e coberta de pó.

Flor nua; encerrada com seus invernos...
Sou rosa, que caídas as pétalas, aguarda,
em traje de sombras; não vivo...Hiberno,
à espera que o gelo derreta; o fogo arda.

Sei: Peças de mim não verão a primavera.
Não me peçam para arcar com isso tudo;
arquear com meu refugo; a alma pondera:
Eu devo cortar o jugo inútil; não me iludo.

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Paleta Ilusória





Vento fez respingos azuis no prado.
Sobre tela verde uns pigmentos de anil,
que borda, caprichosa,  a brisa de abril.
O sol hipnotiza, doura os tons azulados.

Cravos rubros, rosas louras? Que nada!
Olho; só descubro plantas campestres.
Margaridas elegantes; flores silvestres.
Pétalas brancas e violetas abraçadas...

... Paleta ilusória... Finge mesclar tintas,
que os raios do astro rei tingem no chão.
Imitam lápis-lazúli as corolas iluminadas,
qual bandeirolas agitadas pela viração...

Parece tirado da cartola de um ilusionista 
esse quadro; feito lebre, salta aos olhos...
Ao prado multicor, não há quem resista.
Visão gravada na mente; virou monopólio.

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Sou Do Inverno O Jardim





Eu joguei as minhas pétalas ao vento.
Que essa brisa não te assuste, amor...
São só anéis para não perder os dedos.
E contra as marés, nua, vou ao relento.
Lá enfrentei, com muito tento, toda dor.
Entre brumas, vi em cinzas os medos.

Uma por uma, queimei minhas naves.
Não cabe olhar prá trás; voltar passos.
Algo de mim jaz, intacto, pelo caminho.
Abandonei a carga; aos pés tato suave.
E deixo ao rés do chão alguns pedaços,
com meu aroma: loção de rosmaninho.

Partes à terra vão... Bocadinhos de mim.
Outros germinam; contingências da vida.
Agora hiberno; a inconsciência do sono.
Entorpecendo; sou do inverno... O jardim.
Fênix, voltarei na primavera; renascida...
Novo ciclo: verão e aí anemia do outono.

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Visões De Açúcar




Lembro o céu limpo, nenhuma tormenta à vista.
Vejo a inocência, ilesa, em seu campo de flores.
Ternura sem ânsias ou temores, nada contrista.
Um balanço, ao vento,a alegria sem invasores.

Visões de açúcar vazam no ladrão da memória.
Asas da divina lembrança pairam sobre meu dia.
Dançam na mente os trechos felizes da história.
Eu deixo fluir esse fio, filamento de nostalgia...

...E escoa mel daquela candura que esfumou.
Inunda toda a minha alma;o fim da melancolia.
Fica amortecida a agonia que me amargurou.
Partes perdidas de mim revivo; a dor esvazia.

Mas o rio do tempo não para, água caudalosa.
Extravia a atmosfera em que suspirei encantada.
Guardo o riso na gaveta; retomo a via afanosa.
Outro dia piso novamente a senda açucarada.

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 15 de outubro de 2011

A Salvo De Mim




Alma revela, bem nos primórdios de mim...
...caos, daquela que não sabe ser quem é.
Entrei no labirinto interior e fui pé ante pé.
A casa de Dédalo, não minto, era sem fim.

Mas o despetalar da folhinha tudo altera!
E a saída foi brotando com cada tropeço;
Aos trancos e barrancos; meio ao avesso,
Ariadne me dá o fio; desenleio primaveras.

Foi árduo, mas desembaralhei essa meada!
E entre tantos círculos achei uma linha reta.
Planto meus vínculos com a próxima meta...
Cada alvo tem prevista sua própria chegada.

A salvo de mim arrisco um estado de graça.
Minha seguinte peleja é com o lado de fora.
Sem acintes posso olhar ao espelho, agora.
O que vejo em sua face já não me ameaça.

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A Flor Da Fé




Ah! Vida tão sem nexo; é baú de contradições.
Homens perplexos; ilhas de paz entre furacões.
Realidade com um olho que ri e outro que chora,
deixa na alma tristezas; jasmins do lado de fora.

Mas após o vendaval vem o sopro de esperança,

como depois da tempestade segue uma bonança.
E o nauta já se ergue; pode controlar o seu navio.
Aquele ciclone que então roncava agora fala macio.

Nessa vil ventania voo entre sucessos e fracassos,

vou ao avesso do que se perdeu, destoo ; me refaço.
No meio dessas intempéries, a fé, já quase sem cor,
entre os malogros em série, incrível, planta sua flor.

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Versos Mudos





Certo, um beijo fala mais que palavras.

Os lábios ofertam vozes não verbais.
São versos mudos que na pele lavram
trilhas subliminares, árias incidentais.

Amor não tem léxico; no olhar...Direto.
Seria complexo demais se fosse falado.
Ele dá sinais sem recorrer ao alfabeto.
Legíveis aos olhos; a dois, declarados.

...E no beijo se eriçam cinco sentidos.
É um vínculo que atiça duas metades.
e tatua orvalho nos poros comovidos.
Conjugado no pretérito vira saudade.

Rosemarie Schossig torres

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Respingando Versos




Eu encharquei as minhas palavras no tinteiro.
Depois fui saindo por aí, respingando versos,
no coração de papel, meu pequeno universo,
reino da inspiração, musa, flor desse canteiro.

Versei roseiras, aromas de soneto alvissareiro.
Poemas sem eira nem beira vieram, conversos,
pequenas liras, plantar-se na jardineira,imersos.
Alma floresce em rimas; do som faz seu parceiro.

E nas catorze linhas vou arrimando esperanças.
Abraço da fé, que em cada estrofe vem aninhar
acalentadas utopias; os pés postos na confiança.

Vozes ao vento, um doce acalanto a se propagar.
Em cada folha deito o que no sentimento dança.
Páginas desveladas; o leito do meu eterno sonhar.

Rosemarie Schossig Torres

domingo, 25 de setembro de 2011

Rimas Com O Fogo





A serra azul que era verde, agora é parda.
Recados do vento, campo afora, nefastos.
Ordenam sem tento: Que o cerrado arda!
Pira inapagável; esturricados seus pastos.

É brisa nada afável, faz rimas com o fogo.
Em lufadas arrasta chamas, deixa cinzas.
Nada a afasta de seu alvo; nenhum rogo.
Ninguém está salvo das flamas ranzinzas.

Calvo meu monte, coberto pela poeira gris.
As chuvas incertas, invisíveis no calendário.
Desbotados verdes; esperança sem matiz.
Um sinistro pintor borrou nuvens do cenário.

Sobrou a ave lamentando seu ninho perdido.
A última árvore de pé já não possui as ramas.
Queima o panorama; a destroços foi reduzido.
Em alvoroço, natureza em seu palco, reclama.

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Poeta E A Lua




O poeta em sonho breve,
ao olhar triste a lua,
em sua face de neve
 vê bela musa toda nua...

Suspira evocações prateadas.
Em seus olhos bóiam brumas.

Diva no meio do céu
vestida de luminescências;
envolta em esgarçado véu;
nuvens de gaze e transparências.

Transpira aura diáfana a madrugada,
que a musa convoca e logo ressuma.

Seu coração, então vaga.
Vai inventando amores...
E a mente, junto, divaga.
Imagens puras; sem cores.

Respira devaneios em baforadas,
que a noite sem estrelas perfuma...

E o bardo lamenta a distância
de sua musa clara, transparente.
Quisera ser ele uma fragrância;
envolver o corpo luminescente.

Lira de transparências rimando; vem a alvorada.
O poeta guarda a musa num véu que não esfuma...

Rosemarie Schossig Torres

Neblinas Da Alma




A lua exagera os seus dons de mistério...
Destemperam os tons... De pernas pro ar!
Eu vou junto e me governa o despautério.
Entre neblinas da alma vejo velas no mar.

Desconheço si se ilumina a escuridão...
Ou o breu escurece a luz; sem explicação!

Os estilhaços do meu espelho sugerem:
Existem muitas mais dentro de mim agora.
Sonho tragou o mundo, miragens ferem...
O que é nítido agonizou à margem, lá fora.

Já nem sei o que é reflexo, representação
e o que é imagem; verdade ou dissimulação?

A superfície declina, em coma no pantanal;
mar interno subiu à tona, mostra a sua face.
Incerteza! As brumas tomam conta do real...
Tudo é espanto; às tontas busco o desenlace.

Vagando, eu ainda não sei se vivo ou deliro...
Chão esquivo; não há nenhum lugar seguro,
enquanto não sair o sol, inteiro, de seu retiro.
Ainda quero ver o luzeiro emergir do escuro.

Rosemarie Schossig Torres

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Águas Pretéritas



Eu queria cicatrizes com amnésia, olvido,
para não lembrar a nevralgia das chagas.
Dói olhar prá trás; memórias... São adagas.
Talham, remoem histórias de tempos idos.

Fantasmas do passado arrastam correntes.
Avançam exalando ultrapassados desejos;
desfilam lembranças penadas num cortejo.
Em replay... Uma a uma contas pendentes.

É o ontem, me afronta sutil, olhando de viés.
Vejo no retrovisor, aquela infantil candura...
Sinto de novo o que ficou atrás da armadura.
São as águas pretéritas lambendo meus pés.

Mágoas, em marcha ré, voltam ao seu posto.
Encharco-me no vídeo tape de reminiscências.
Às avessas, que bom! O afável da existência,
vez em quando desenha o riso em meu rosto.

Rosemarie Schossig Torres

Flores Murchas Para Um Adeus



Ventos de agosto invadem setembro.
Cortam meu rosto; hirtos os membros.
Coração aflito; nem sinal de primavera.
A leal poesia em compasso de espera...

Na via que traço, sem ti, pobre de mim!
Há uma nuvem, desvia o sol do jardim.
Persigo o verão; mas o inverno insiste.
Melancolia é estação teimosa; persiste.

Queria ao menos o outono, um conforto.
Ninho de folhas secas...O último porto,
para o amor sem sazão, que se perdeu.
Restam flores murchas para um adeus.

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Canção Calada




Vento, porque tiras assim minha calma?
Sopras o desengano pela janela aberta.
E um vazio, insano, invade minha alma,
que nesse instante estava descoberta.

Dentro, meu canto de silêncio absoluto,
recanto onde se encaixa a melancolia...
Entoa canção calada, que só eu escuto.
Toada a modular em dó maior a agonia.

Adverso, do lado de fora, o dia anoitece.
E entre brumas o firmamento faz motim.
Escondido um sol, menor, desaquece.
Peço: tragam o céu de volta prá mim...


Rosemarie Schossig Torres 

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Rosa Perpétua





Na companhia de qualquer ilusão
...A procissão de mil promessas...
Que ganham espaços no coração
e num abraço as crenças confessa.

Formam par: o sonho, a esperança,
que mesmo vacilando na descrença,
parem utopias; suprem confianças.
Fé cumpre juras de eterna presença.

Sempre viva, a flor que nunca estiola.
Certeza que o seu amanhã persegue.
Rosa perpétua, a pétala que consola,
qual asa perene, no céu prossegue...

Rosemarie Schossig Torres

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Por Uma Fresta No Tempo...



Por Uma Fresta No Tempo...

Por uma fresta que no tempo se deteve,
espreitei o instante agourento, caipora.
Eu o vivi ou foi ele que em mim esteve?
Só um minuto... Para mim foram horas!

Pasma, sombra sem corpo eu vi aparecer.
Rompendo as trevas ; musa dos suicidas.
Uma bruma difusa, que fez a vista arder.
Vislumbrei a sem rosto: antítese da vida.

Não tinha cara ou tez. Eu disse vade retro!
Surgida direto do Hades... A descarnada.
Fera trazendo uma foice em vez de cetro.
Era uma carcaça de ossos feita, mais nada.

Antes dela, passou o Tempo, o seu irmão.
Arcabouço disforme, sem fim, nem início.
Cetim, textura de relógios o seu roupão...
E uma voz de tique-taque! Ilusão, artifício.

Algoz, seu ofício era ir jogando areia fora.
Com a mão enorme quebrava ampulhetas.
E de supetão a vida dos ‘’eleitos’’, devora.
O que poderia ter sido vai direto pra gaveta.

Sombria, então, vinha a diva dos defuntos,
que esquiva, trazia nas mãos um cemitério...
Na travessia a malvada semeava pés juntos,
deixando vidas vazias, concebia necrotérios.

No encalço dessa ‘megera’’ viúvas gemiam.
Ao pé de um cadafalso choravam os órfãos.
Desde o céu uma centena de corvos a seguia.
Ao léu réquiens troavam de aziagos órgãos.

Ah! Ela passou por mim, sem parar, que sorte!
Tão bom ser ignorada por essa fada ao inverso.
Assustada nem podia dizer o seu nome: morte.
Mau sonho! Deixou na boca o gosto do adverso.

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 11 de julho de 2011

VOZES E RESSONÂNCIAS





Cabem insolência; impropério
em ponta de língua ferina.
Mente confusa, que alucina;
falas repartindo despautério.

Todo o amor flui num olhar,
escorrega por gestos incertos,
se esgueira nuns lábios abertos
e dispersa os seus dizeres no ar.

Um réquiem repercute prantos,
sem importar tempo, nem lugar.
Na falta de carpideiras pra chorar
vozes atemporais entoam cantos.

A soma dos melhores momentos,
repercute e ressoa pela vida afora...
Ultrapassa o hoje, atropela o agora.
Paira nos dias, ao sabor dos ventos.

Rosemarie Schossig Torres