sábado, 28 de agosto de 2010

Pedra-Flor


Festim de imagens; delírio.
Ingresso num jardim de pedra,
onde brota de alabastro, o lírio,
que num vergel de jóias medra.

Então pergunto aos meus olhos:
Serão realmente feitas de rubi
essas papoulas? Ou antolhos?
A mente refuta com frenesi...

Imaginação não quer pensar.
Logo afunda em raro ramalhete
de matizadas adelfas a fulgurar.
À sorrelfa espio colorido tapete.

Encarnadas rosas em asterismo,
qual jaspes de sangue tingidos.
Estrelas ásperas fazem tropismo,
vibram pela miragem atingidos.

Mais lá no fundo um girassol,
brilha feito a arca do tesouro.
Áureo, rivalizando com o sol.
Biruta, gira com pás de ouro.

Nuvens de madrepérola e anil.
A multidão de miosótis viceja.
de lápis-lazúli, em pétalas mil,
num canteiro que azuleja...

Vejo pontos vermelho rutílio
entre borrões verde esmeralda.
Há diamantes florindo em brilho
e topázios em ramagem gualda.

O jacinto vegetal se petrifica,
em vulcânica e cristalina gema,
que nesse cenário se multiplica.
Prenda valiosa que orna o poema.

Mas, de repente, tudo se esfuma.
É apenas um sonho esse lugar...
Visão que meu devaneio perfuma.
Foi só alucinação que sumiu no ar.

Rosemarie Schossig Torres

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