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Um dia, sem querer, nem pensar,
a página vazia enfeitiçou o poeta.
Fez-se imã, gravitação a lhe aliciar,
seduzindo as idéias; atingiu a meta
de ser espelho do verso a se olhar.
Dialogando com o coração de papel
(que não sabe chorar, nem sofrer),
ele quis cercar a dor; dissecar o fel.
E nas linhas do retângulo, converter
os agravos do efeito esponja em mel.
Então a folha foi virando um divã,
onde palavras tristes se deitavam.
Falando ao psiquiatra mudo, em sãs
e belas iam se tornando, brilharam.
Aquela ouvinte ele chamou de irmã.
E foi plantando dilemas no espaço,
que converteu em metáforas, rimas.
Um solo fértil; dos versos o regaço.
Nova imagem ao espelho se arrima.
Poeta já se vê, ainda que meio baço.
Rosemarie Schossig Torres
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