A vida tece talagarças de desencanto.
Farsa em inumeráveis atos; em anexo
semeia nas poças o insensato, reflexo
cru, que empoça em alagados cantos.
A realidade nada sabe de acalantos...
Nas ruas, não cabe poesia, complexo
demais para o chão, já tão sem nexo,
que vai rimando fome com quebranto.
E quem liga para verso, consonância?
Imerso, no útero das esquinas, sonho
vai a esmo, ao sabor da circunstância.
Vive das migalhas dos dias tristonhos.
De vez em quando, entre reentrâncias,
seu raio de luz, surge, quase risonho...
Rosemarie Schossig Torres
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