sábado, 11 de dezembro de 2010

Quando Abrirem Meu Coração




Quando abrirem meu coração
um baú por certo que acharão;
arca de emoções até a tampa,
umas cristalinas;bela estampa...

Fiapos de momentos, em versos;
relógio marcando tempo submerso.

Verão uma caixinha de lágrimas,
poças de desolações, lástimas...
Mas também encontrarão alegria,
cascateando , fora de hora; euforia.

É o músculo bombeando meu riso,
já congelando, chocalho sem guiso.

Peço a quem ver-me peito aberto,
muito respeito, a alma está perto.
Não rias de minhas pieguices...
do tango triste; das esquisitices.

Remexendo no meu tique-taque
irão achar jóias e badulaques,
que para mim são preciosas.
Não cometam ações acintosas...

Pois no fundo verão num cristal
a própria face, humana, banal!

Rosemarie Schossig Torres

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Aquela Gota Primeira...



Pega a gota de ânimo que resta
e faça uma festa; sai a passeio.
Entre as ânsias abre uma fresta.
Vamos! Avança; tira o pé do freio.

Absorve o azul desse céu infindo
e rasga o véu dos olhos, respira!
Depois diz com a alma: Dia lindo.
Aí, coração, com calma, suspira.

Então a paz recebida, espalha...
Deixa fluir vida em ti, alvissareira.
Esse sentimento bom esmigalha
e multiplica aquela gota primeira.

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Não O Fim, Mas Sim, A Senda




Eu já nem sei bem se é o poema,
arteiro ,que pelo avesso me vira .
Ou se o meu corpo inteiro respira
em verso, onde exalam os dilemas.

Na trilha desse dizer-me resvalo.
Tudo que de mim mesma oculto,
lá no jardim do âmago, inculto,
súbito , em rimas, eu despetalo.

Alheias, cismam janelas abertas.
No improviso, ao reverso, cenário
é que adentra o verso, contrário
esteio ; novas palavras desperta...

Enquanto o verbo me desvenda....
Eu, envolta em rendas alegóricas;
entrelinhas veladas, metafóricas,
busco não o fim; mas sim, a senda.

Rosemarie Schossig Torres

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Acaso Ou Destino



Dois caminhos diferentes,
como paralelas avenidas.
Dois destinos tangentes,
cruzados no meio da vida.

São dois olhares casados
na luz de uma mesma sina.
Dois momentos enlaçados
ao se toparem numa esquina...

São como palavras que rimam
numa estrofe, fazendo a poesia.
Ou sons em diapasão que afinam
para comporem, juntos, melodia.

Mas quem sabe não existe o destino?
Talvez seja apenas broma, diabrura
do acaso. Toma a forma de menino
e arquiteta, ladino, a sua travessura.

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Poema Bisonho




Nas entrelinhas das horas banais,
crepitam os momentos perdidos.
Gritam à espera de serem ouvidos.
Mas só tocam trilhas incidentais.

É música anã e quase inaudível;
sons que se movem em segredo.
Às vezes pareço tirar do degredo
a partitura em surdina; invisível.

Tento mudar esse anônimo canto.
E o corriqueiro; quero a harmonia;
poetizar a poeira, versificar agonias
e virar o disco que eu já ouvi tanto.

Assim escrevo esse poema bisonho.
Para que raie sol menor; desacorde.
Enfim, que consiga afinar os acordes,
e sigam de acordo com meu sonho...

Rosemarie Schossig Torres

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Por Um Fio



Triste lamento vagava sem sossego.
Emprestou-lhe as suas asas o vento.
Voz solitária buscava um aconchego
ou ressonância; eco ao seu desalento.

Indo pelas ruas esse cicio, depositário
da fé por um fio, pelas igrejas vogava.
Tentou entre turíbulos e escapulários
se aninhar, mas a pompa o assustava.

O fausto do templo seu clamor abafou.
Voltou às calçadas e de porta em porta
esse cochicho infatigável , perambulou.
Nada achou; a esperança quase morta.

Feito flor ninada pela brisa indolente,
foi carregada; voz vazia, quase derruiu,
mas por fim aterrissou no riso inocente
de uma criança. Afagada então, dormiu.

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Delírio Enxertado






Os montes alvos em sonho desperto,
flamejam fulgores da Sirius; sideral
frenesi ; em cores de lírio; manancial
de pétalas;os alvores no real enxerto.

E a minha serra, hoje quase deserto,
suja de fumaça da queimada estival,
faço nevada, flora gélida, meio glacial.
O meu cerro fica de edelweiss corberto.

Pudera a visão criada em minha cabeça,
trazer os frescores, copiados da ilusão,
e sem devastação o cerrado reverdeça.

E de novo meu monte azul, abstração,
volte a ser verde, a caliandra refloresça.
Que o devaneio se perca na vegetação...

Rosemarie Schossig Torres

domingo, 24 de outubro de 2010

Quando Eu Semeio Luz



Quando eu semeio luz
no meu chão, dia-a-dia,
um minúsculo facho reluz
e no cotidiano se irradia.

São pequenos atos de amor.
Luminescências aos pedaços,
que distribuo ao meu redor,
em palavras, beijos, abraços.

Brilhos gerando novos faróis,
de outros semeadores,
que juntos, formamos sóis,
iluminando dias melhores.

Rosemarie Schossig Torres

domingo, 10 de outubro de 2010

Quadro Cambiante





Piso os umbrais de mais um dia
que se encerra; missão cumprida.
Ao pôr do sol, o astro na descida
do horizonte, boceja, em letargia.

Cores mudam; quadro cambiante.
E até a alma, no poente, entardece.
Preâmbulo do crepúsculo aparece.
Noite prepara a entrada, triunfante.

Na mente, qual retrovisor, dançam
as veredas que rodei; posso rever
as penas, que resolvi, sem sofrer.
As outras, suspensas, descansam.

Empoleirada nos raios já sem cor,
a paisagem escurece; nova veste
vai trajando, do leste até o oeste.
O toque de recolher soa em langor.

E de repente o céu é o novo campo.
O breu requer toda minha atenção.
Flores somem; seres da escuridão
vêm, com estrelas e os pirilampos.

Madrugada fará sua estréia, eu sei.
E o cenário outra vez se modificará.
Em direção ao amanhecer tudo irá.
Natureza, impassível segue sua lei.


Rosemarie Schossig Torres

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Jardineiras Andarilhas



O meu jardim dos sonhos...
No terreno do incerto plantei.
E alegrias sempre-vivas semeei
em canteiros de dias tristonhos.

Rosa aberta na agonia se arraigou.
Pétalas brancas, de paz, vingaram.
Esperanças, em ramas, medraram.
Vergel , adubado na fé, prosperou.

Culpa dessas perpétuas, teimosas,
que em solo inóspito já vão florindo.
Amenos percalços; quase sorrindo.
Já não temo essas rotas espinhosas.

Feito um heliotrópio, o meu coração
para o sol se virou, o campo minado
de desenganos, de flores adornado,
amores colheu; alumiou a desolação.

E jardineiras de jasmins, andarilhas,
Levo comigo ; a minha estrela faísca
com belas promessas;lanço a isca
e pesco felicidade com buganvílias.

Rosemarie Schossig Torres

O Poço Da Catarse




Faltavam apenas cinco passos
e te abririas pra mim, Parnaso!
Mas eu me assustei; senti frio.
Soltei régua, compasso; arrepio.

Então quis a poesia pé no chão;
cantoria de cego em velho violão.
Escrever à musa rota da esquina.
Noctâmbula em busca de propina.

E corri do verso exato, parnasiano.
Feito contador que foge do engano.
Como o diabo, que corre da cruz...
Eu quis, feito morcego, fugir da luz.

Abracei as trevas do verso tateado;
inexato; trôpego; apenas balbuciado.
Nessa corda bamba estou equilibrista,
pra que do poço da catarse saia artista.

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ÁCIDO AÇÚCAR






A vida me brinda drinques de fel.
Osculo suas taças; acerbo absinto
vaza das horas; bebo o coquetel,
e já no ácido açúcar eu pressinto.

Intercaladas aos dias de angostura
acho tréguas de mel nessa mistura.

Tempo passa alternando paladares.
Sou a marionete; a anã do picadeiro.
Recebo o beijo, o tapa; todos os ares.
Após as flores, à socapa, o espinheiro.

Segue o cortejo aleatório; a aventura
de estar viva, festejo, até com agruras.

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 11 de setembro de 2010

Flores De Trapo



Da teia dos dias cinzentos
tecia suas flores de trapo.
Ela nem via os farrapos,
que vida cosia ao relento.

Com olhos postos no céu
vivia. Seus pés na desolação
quase nem sentiam o chão.
Protegia alma com um véu.

Entre o delírio e o passional
balançava ; arame inseguro.
Mas sua fé cega, no futuro,
dava-lhe poder paranormal.

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Névoa De Um Sonho Antigo



Imaginei-te doce e nobre amigo...
Não importava que fosses invisível.
Fiz-te da névoa de um sonho antigo.
Companhia, ombro imprescindível.

Depois bordei em imaginário cetim
as armas de anjo protetor, tua arte
de guardar a sete chaves, querubim ,
os corações feridos em teu baluarte.

Junto forjei a máscara de felicidade,
que visto, e oculta, por trás do riso,
minha cara magoada, a de verdade.
Cobertura para meu esgar indeciso.

Falta a essa quimera sopro de vida,
como o poeta reverbera em poesia
o alento de sua musa preferida...
Pobre de mim! Não sei idear magia.

Rosemarie Schossig Torres

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Essências De Sonho



No fundo do espelho corre um rio.
É o tempo que flui com a memória.
Aí mergulho sem asas; nenhum fio.
Sou absorvida pela minha história.

E volto a antigos quintais; infância.
Alma que jamais viu a dor de perto.
Sinto calma em toda sua fragrância.
O medo ainda não foi descoberto...

Lá o riso segue capturando libélulas.
Reencontro pequeno jardim intacto
Imaculados jasmins; pétalas; células.
Refaço comigo aquele antigo pacto...

Ajuste renovador; viagem providencial
para enxertar no vergel da maturidade
aromas de inocência; tônico primordial.
Essências de sonho; elixir da felicidade.

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Sonho Em Ondas




Chamo o sono evocando o mar.
e durmo num azul de placidez...
Em seu imaginário marulhar,
que embala o dormir em liquidez.

Eu amanheço ainda submergida
no delírio; o travesseiro ao lado
são ondas; seguem fluindo vida.
Na íris o sonho já quase acabado.

Nessas vagas, desperto atontada.
O pulsar do oceano sigo ouvindo.
Memória viva de mãos molhadas.
A praia continua aí me sorrindo.

Nos pés: tramas de areia rendada,
espuma desse prazeroso devaneio,
qual lençol suave; pele acetinada.
O frenesi vai em ondas, como veio...


Rosemarie Schossig Torres

Ode Em Reverso



A chaminé que no céu tece
borrões de fuligem repulsiva,
não é aquela por onde desce
o papai Noel; tão inofensiva.

Fera esfomeada, que encheu

e se propagou no firmamento,
vai comendo azul ; cospe breu.
Cobre o horizonte de cimento.

Até a musa se mancha de cinza,

que chamusca, salpica o verso
com o seu novo esgar ranzinza.
Polui as rimas; ode em reverso.


Rosemarie Schossig Torres

sábado, 28 de agosto de 2010

Pedra-Flor


Festim de imagens; delírio.
Ingresso num jardim de pedra,
onde brota de alabastro, o lírio,
que num vergel de jóias medra.

Então pergunto aos meus olhos:
Serão realmente feitas de rubi
essas papoulas? Ou antolhos?
A mente refuta com frenesi...

Imaginação não quer pensar.
Logo afunda em raro ramalhete
de matizadas adelfas a fulgurar.
À sorrelfa espio colorido tapete.

Encarnadas rosas em asterismo,
qual jaspes de sangue tingidos.
Estrelas ásperas fazem tropismo,
vibram pela miragem atingidos.

Mais lá no fundo um girassol,
brilha feito a arca do tesouro.
Áureo, rivalizando com o sol.
Biruta, gira com pás de ouro.

Nuvens de madrepérola e anil.
A multidão de miosótis viceja.
de lápis-lazúli, em pétalas mil,
num canteiro que azuleja...

Vejo pontos vermelho rutílio
entre borrões verde esmeralda.
Há diamantes florindo em brilho
e topázios em ramagem gualda.

O jacinto vegetal se petrifica,
em vulcânica e cristalina gema,
que nesse cenário se multiplica.
Prenda valiosa que orna o poema.

Mas, de repente, tudo se esfuma.
É apenas um sonho esse lugar...
Visão que meu devaneio perfuma.
Foi só alucinação que sumiu no ar.

Rosemarie Schossig Torres

Sonhos Pelo Chão



É muita formiga pra pouco açúcar!
Trabalho demais; prazer de menos.
Fardo-folha nas costas a machucar
e um penar que nunca é pequeno.

E correm, lidam, carregam sem parar.
Criaturas em seus trabalhos braçais.
No batente estão sempre a matutar.
Querem destacar-se entre as demais.

Acotovelam-se por um lugar ao sol.
Anseiam vida boa, cheia de frescuras.
E pintado no horizonte: novo arrebol.
Na mesa farta, milhões de gostosuras.

Mas não é nada assim, pelo contrário.
Elas seus sonhos pelo chão espalham
e vem o graúdo, ser cruel , salafrário
e pisa neles; as formigas só trabalham.

Rosemarie Schossig Torres

Algo Mais Que Um Sonho


Que tão má ilusão é essa?
Depois que se esvai, esfuma,
fica na boca amarga espuma,
choca; de aleivosa promessa.

Leva ao céu; se vai tão depressa.
Faz mirar encantos entre brumas,
para que em seguida tudo suma...
E então num vácuo me arremessa.

Quero algo mais que um sonho.
Chega desse devaneio vazio...
Onde o coração inteiro eu ponho.

Almejo uma ancora ao erradio
delírio; que o triste seja risonho
e o nauta exilado tenha seu navio.

Rosemarie Schossig Torres

domingo, 22 de agosto de 2010

A Noite É Uma Criança


Estou só; madrugada avança.
Você sumiu; ficou a promessa.
E essa noite qual uma criança,
que vai me pregando peças.

E em papel tinto de nanquim,
bóia a lua - foice feita de lata.
E já não sei se é fugaz farolim
ou pirilampo; ilusão de prata.

Espero...quando você vem?
Espiono as Três Marias, irmãs
atrás da moita, que é nuvem,
se escondendo da Aldebarã.

Deliro de vez; é a nebulosa
de Órion, fábrica de estrelas.
E nem estou mais ansiosa...
Já passou... Só quero vê-las.

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Sonho Em Paralelo



Por que falar de flores?
Se ao cruzar o jardim,
eu vejo ruas sem cores
e nem sinal de jasmim.

Talvez invocar a beleza,
essa que é ultimamente,
muito amiga da tristeza,
seja saída válida,coerente.

Pois se entre os espinhos,
vive a rosa sem sangrar...
O poeta entre descaminhos
pode, em rimas suas, florear.

Por que não evocar o belo?
Se nas entrelinhas da dor,
desliza o sonho, em paralelo
contradizendo o desamor.

Se existem fealdades e lírios,
cantar formosura é falsidade ?
É mágico, em poéticos delírios
vicejar ; poetar nova realidade.

Rosemarie Schossig Torres

Porto De Quimeras


Atracou quase morto o coração,
em porto de quimeras; seu amor,
ave sincera, aterrissou na ilusão;
o que era firme virou fugaz torpor.

Contumaz tentou a última proeza:
Almejou tornar amável o egoísmo.
Como fosse praticável rir a tristeza.
Perdeu o chão; caiu alma no abismo.

Triste, no ostracismo, lançou ao mar,
suas redes de solidão; feito garrafas,
mensagem derradeira; queria amar.
Mas voltaram vazias as suas tarrafas.

Hoje tem a amplidão por companhia
e a canção das ondas, em seu ir e vir.
Olha para o céu; ser gaivota queria...
E impassível, saber chegar e partir.

Rosemarie Schossig Torres

Rainha Dos Pilantras

Parabéns marinheiro de primeira vadiagem!
Fingias tomar um café; indo da ‘’mina’’ atrás.
Saístes tosquiado ; lã falsificada; maquiagem.
E tu, infeliz! O lobo novato, passado prá trás.

Ao fim, tua princesa era rainha dos pilantras,
Que te abandonou suando, sozinho e a frio...
Não colou nenhum dos teus infalíveis mantras.
E daí caístes de gaiato do cavalo. Ou do navio?

Saiu bem caro esse café e ela te depenou todo.
Largou-te nu, em pelo, e sem nenhum tostão
Caído, lá na rua dos otários, no meio do lodo.
Levou tua carteira. Quem sabe, talvez o coração.

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Poetisa Virada Ao Avesso


Já não ouço bem o tique-taque
pulsante do horizonte...
Escondeu-se atrás do monte,
turvo, do cotidiano de araque.

Mudanças no cenário, que se esfuma
ou as minhas retinas escureceram?

O azul tem gosto de absinto...
O verde já não refresca os olhos.
Cresce um jardim de abrolhos
na garganta, que é labirinto...

As cores se decompõem em brumas
ou os meus sentidos entristeceram?

Então, cada pisada é um tropeço.
Caí num ardil; meu próprio laço.
E as palavras são o descompasso
dessa poetisa virada ao avesso.

Tudo ao meu redor se desapruma.
Vou à flor da pele; quimeras se perderam...

Só ficou o templo que as esperanças alçaram...
Na expectativa de chegarem mudanças boas.
Enquanto isso vou escrevendo novas loas
pra chamar de volta os sonhos que sumiram.


Rosemarie Schossig Torres

CRUEL




De vez em quando...
Cutuco as cicatrizes em mim.
Vou sua memória purgando...
Serão feridas fechadas por fim?

Testo a resistência dos receios,
duelando com os pesadelos
e futuras tragédias enleio...
Por antecipação sofro; desvelo.

Volto a buscar velhos vícios,
para ver se estão mesmo mortos...
E aquela propensão ao sacrifício?
Tateio todos os meus lados tortos.

Olho meus retratos antigos.
Quero saber se doem ainda.
Revirando os baús sigo.
Percorro minha alma infinda.

De vez em quando...
Comigo mesma sou cruel.
Vou explorando, devassando
desejos ocultos, lambo meu fel.

E diante do espelho:
Encaro o imperdoável em mim...
Para sentir o sabor amargo, velho,
de ser eu mesma; de ser assim.

Rosemarie Schossig Torres