quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Por Um Fio



Triste lamento vagava sem sossego.
Emprestou-lhe as suas asas o vento.
Voz solitária buscava um aconchego
ou ressonância; eco ao seu desalento.

Indo pelas ruas esse cicio, depositário
da fé por um fio, pelas igrejas vogava.
Tentou entre turíbulos e escapulários
se aninhar, mas a pompa o assustava.

O fausto do templo seu clamor abafou.
Voltou às calçadas e de porta em porta
esse cochicho infatigável , perambulou.
Nada achou; a esperança quase morta.

Feito flor ninada pela brisa indolente,
foi carregada; voz vazia, quase derruiu,
mas por fim aterrissou no riso inocente
de uma criança. Afagada então, dormiu.

Rosemarie Schossig Torres

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