sexta-feira, 30 de julho de 2010

CRUEL




De vez em quando...
Cutuco as cicatrizes em mim.
Vou sua memória purgando...
Serão feridas fechadas por fim?

Testo a resistência dos receios,
duelando com os pesadelos
e futuras tragédias enleio...
Por antecipação sofro; desvelo.

Volto a buscar velhos vícios,
para ver se estão mesmo mortos...
E aquela propensão ao sacrifício?
Tateio todos os meus lados tortos.

Olho meus retratos antigos.
Quero saber se doem ainda.
Revirando os baús sigo.
Percorro minha alma infinda.

De vez em quando...
Comigo mesma sou cruel.
Vou explorando, devassando
desejos ocultos, lambo meu fel.

E diante do espelho:
Encaro o imperdoável em mim...
Para sentir o sabor amargo, velho,
de ser eu mesma; de ser assim.

Rosemarie Schossig Torres

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