sexta-feira, 30 de julho de 2010

Poetisa Virada Ao Avesso


Já não ouço bem o tique-taque
pulsante do horizonte...
Escondeu-se atrás do monte,
turvo, do cotidiano de araque.

Mudanças no cenário, que se esfuma
ou as minhas retinas escureceram?

O azul tem gosto de absinto...
O verde já não refresca os olhos.
Cresce um jardim de abrolhos
na garganta, que é labirinto...

As cores se decompõem em brumas
ou os meus sentidos entristeceram?

Então, cada pisada é um tropeço.
Caí num ardil; meu próprio laço.
E as palavras são o descompasso
dessa poetisa virada ao avesso.

Tudo ao meu redor se desapruma.
Vou à flor da pele; quimeras se perderam...

Só ficou o templo que as esperanças alçaram...
Na expectativa de chegarem mudanças boas.
Enquanto isso vou escrevendo novas loas
pra chamar de volta os sonhos que sumiram.


Rosemarie Schossig Torres

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