quinta-feira, 21 de julho de 2011

Por Uma Fresta No Tempo...



Por Uma Fresta No Tempo...

Por uma fresta que no tempo se deteve,
espreitei o instante agourento, caipora.
Eu o vivi ou foi ele que em mim esteve?
Só um minuto... Para mim foram horas!

Pasma, sombra sem corpo eu vi aparecer.
Rompendo as trevas ; musa dos suicidas.
Uma bruma difusa, que fez a vista arder.
Vislumbrei a sem rosto: antítese da vida.

Não tinha cara ou tez. Eu disse vade retro!
Surgida direto do Hades... A descarnada.
Fera trazendo uma foice em vez de cetro.
Era uma carcaça de ossos feita, mais nada.

Antes dela, passou o Tempo, o seu irmão.
Arcabouço disforme, sem fim, nem início.
Cetim, textura de relógios o seu roupão...
E uma voz de tique-taque! Ilusão, artifício.

Algoz, seu ofício era ir jogando areia fora.
Com a mão enorme quebrava ampulhetas.
E de supetão a vida dos ‘’eleitos’’, devora.
O que poderia ter sido vai direto pra gaveta.

Sombria, então, vinha a diva dos defuntos,
que esquiva, trazia nas mãos um cemitério...
Na travessia a malvada semeava pés juntos,
deixando vidas vazias, concebia necrotérios.

No encalço dessa ‘megera’’ viúvas gemiam.
Ao pé de um cadafalso choravam os órfãos.
Desde o céu uma centena de corvos a seguia.
Ao léu réquiens troavam de aziagos órgãos.

Ah! Ela passou por mim, sem parar, que sorte!
Tão bom ser ignorada por essa fada ao inverso.
Assustada nem podia dizer o seu nome: morte.
Mau sonho! Deixou na boca o gosto do adverso.

Rosemarie Schossig Torres

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