sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Desertos De Concreto


Olho pasma a desconstrução do horizonte.
Até o meu galo, com asma, já não canta...
Ao longe: uma árvore cai; um poste levanta.
Verde se esvai; não reconheço meu monte.

A cerca amplia o endereço, profana jardins;
engatinha movida pela grana das grilagens.
Ágil sobe e desce; ávida come a paisagem.
Cresce na terra o cimento e some o capim.

Por fim, um apito; aumenta meu espanto.
Fito pegadas cinza sujando o teto azul...
Para onde olho, perto; longe; norte e sul:
desertos de concreto; fica o desencanto.

Rosemarie Schossig Torres

Nenhum comentário:

Postar um comentário