sábado, 26 de novembro de 2011

O Poço Do Pretérito





Não é só o pescoço que dói ao olhar prá trás...
E como lastimam as saudades dos anos moços!
Tudo culpa da memória, esse fantasma contumaz.
Plasma idas trajetórias; deixa a alma em alvoroço.

Vou caindo no poço do pretérito sempre imperfeito.
Ressuscitam as feridas, antes de serem cicatrizes.
Desfilam maus e bons slides ; videotape mal feito.
Então ardemos olhos agora tristes, depois felizes.

Um decrépito moinho, que de repente desenferruja.
Vale outra vez aquilo que durante anos não se sente.
Sensações projetadas na tela do retrovisor, garatujas
mal traçadas no rosto de um assombrado presente.

Rei posto; tempo passado, faz uma sombra enorme,
que às vezes desata a rir, mas outras leva às lágrimas.
Escombros de histórias inexatas em flashes disformes.
As cinzas revivem, então revejo as glórias e as lástimas.

Chip nostálgico, é um copião do texto pela vida redigido.
Encaro essa flor antropofágica comendo o que me restou,
corroendo o meu futuro; está cada vez menor... Encolhido.
Dói a nuca, mas isso é fatal, pois a melhor parte já passou.

Rosemarie Schossig Torres

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