sábado, 25 de abril de 2015

Alguma Revoada



Amanheceu...Nenhum pássaro ousou cantar
e um sol indolente mal pousou no horizonte.
Dia de pétalas fechadas, de chove não molha.
Talvez a lua remedando a noite irá escurecer...

Até a poetisa se abstém, emudece meu verso.
Pois um labirinto desceu sobre as palavras...
Já não me distraio com o seu quebra-cabeças.
Olhos no céu buscam apenas alguma revoada.

Pernas incansáveis! Só querem andar e andar!
Ora do lado de dentro mora um bicho preguiça,
que embaralha todas as cordas da inspiração,
com um gesto insolente e um sorriso nos lábios.

Rosemarie Schossig Torres


Evidências Do Caminho Andado


Ai! De tanto remoer as intempéries...
dormem redemoinhos entre-dentes.
Enfileirados, são vendavais em série
à espera de tormentas recorrentes...

Nunca acabo de ruminar fatalidades.
De costas, sinto na nuca turbulências,
que passam em mim a toda velocidade,
tatuam corpo e alma, deixam saliências.

São as evidências do caminho andado,
clarividências da ferida e a sua cicatriz,
que guarda a dor de cada mau bocado
e aquele sabor do quase, por um triz...

Veneno na ponta da língua, verbo arde. 
Vai à míngua poesia, fala inarticulada
em turbilhão algoz, a palavra encarde
com os sapos tragados às colheradas.

E bem no fundo do cofre de Pandora 
resiste a última que morre, ainda viva,
verde metáfora de teimosia, redentora...
Do dia em que hei de voltar à voz ativa...

Rosemarie Schossig Torres