sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Reinventando A Lua





Alta noite. Vizualizo em pequenas tochas Antares e Sírius.
Flores astrais que desabrocham na ribalta do céu luzente. 
No cais da galáxia atracam luzes; parecem cadentes lírios.
Quisera saber como se colhe a estrela que cai de repente.

E... Penso que bom seria andar com os pés da imaginação.
Naquele quintal azul suspenso peregrinar por sua láctea via,
pra acordar do sonho trazendo a Aldebarã na palma da mão.
Com calma borda alucinação em minhas retinas essa utopia.

Sem pressa delineio  sensações que sobem na pele em flor.
Anseio distinguir cada rincão sideral e esboçar luminoso atlas.
Então depois de percorrer todos os rumos num lisérgico torpor
traço o êxodo das adversidades reinventando a lua... Agora lilás.

Rosemarie Schossig Torres

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Rainha Sem Coroa


Lá vem a bela rosa, de pétalas, bem cingida. 
Toda prosa, o anel de gotas rubi num abraço. 
E à sua volta os espinhos; fel fazendo laços.
Mas o vento vem, suga o seu vinho, sua vida.

Despetalada e daquele rubro colar despida...
Descubro a corola calva, saia feita em pedaços.
E rolam os pontos vermelhos soltos no espaço.
Inúteis os agudos acúleos, nenhuma ferida...

...Fizeram na brisa, que segue por aí valsando,
com os restos da flor...Pingos que voam à toa...
Que vão prestos pra longe do jardim, adejando.

Então fico pensando nessa rainha sem coroa...
Nua, às vésperas de uma primavera, finando,
como o amor que mesmo antes de ser já enjoa.

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Cores Quentes No azulejo Do Oceano


Desce ardente lava, fusão que esvai dos vulcões.
O mar azul desvanece; ondas agora são rubras;
coradas; sentem pejo de que o magma as cubra.
A cascata de lampejo ígneo arde aos borbotões.

Em jatos... Cores quentes no azulejo do oceano;
tintas vermelhas ressumam ;navio já é fantasma.
Centelhas, brumas de fogo, exalam mil miasmas.
Não há viva alma para chorar ao léu o desengano.

Um véu de fumo encarnado cinge todo o horizonte.
Tinge nuvens, são algodões embebidos de sangue.
Feroz cena estendida: do céu, terra até o mangue.
O aceso lume não desculpa nenhuma das fontes...

Daí esculpe no cenário flamas de um matiz unicolor.
Ave que se salvou por um triz agradece suas asas.
Pernas pra que te quero foram cair em covas rasas.
E já nada respira, chama não perdoa, nem faz favor.

Rosemarie Schossig Torres

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Sonhando A Paisagem Em Palavras



Qualquer hora pode ser tempo de colheita.
Veja a abelha :aprimora o sorver do néctar.
Até o sol ,quando aflora, beija; aproveita...
Gotículas do rocio da manhã que vem sugar.

Ainda tíbios raios douram ao vento as flores.
A aragem brincando espalha suas sementes.
Nessa viagem leva pelo ar insetos voadores; 
vaivém coletando ruídos e sabores diferentes.

No céu, a nuvem grávida de chuva se entrega
à terra ávida desses dotes; doce véu líquido... 
Cai... E logo a sede de tantas bocas sossega.
Águas provocam rios, orvalhos, dons límpidos.

Quietinha observo sons e cada movimentação.
Olhos absorvem rumores, tons das imagens.
A tudo o que vejo ponho um nome... Evocação.
Versejo visões; em palavras sonho a paisagem.

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Entre As Réstias Do Marasmo



É sempre arriscado, imaginar tão alto...
Para depois ir esborrachar-me no chão,
desarme do real,que rende minha ilusão.
Reino sem sal; toma a alegria de assalto.

Sobressalto!A vida se impõe por osmose.
Instala, ávida, âncoras; dentes em riste...
Mordem a face feliz do sonho, que desiste.
Restou só a rotina em enfadonha overdose.

Mas, entre réstias do marasmo de concreto,
planto o talvez com mudinhas de quimeras.
O ato falho se infiltra na tez, gestos da fera.
Já se filtra no frio esgar um sorriso discreto...

Rosemarie Schossig Torres