segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Paleta Ilusória





Vento fez respingos azuis no prado.
Sobre tela verde uns pigmentos de anil,
que borda, caprichosa,  a brisa de abril.
O sol hipnotiza, doura os tons azulados.

Cravos rubros, rosas louras? Que nada!
Olho; só descubro plantas campestres.
Margaridas elegantes; flores silvestres.
Pétalas brancas e violetas abraçadas...

... Paleta ilusória... Finge mesclar tintas,
que os raios do astro rei tingem no chão.
Imitam lápis-lazúli as corolas iluminadas,
qual bandeirolas agitadas pela viração...

Parece tirado da cartola de um ilusionista 
esse quadro; feito lebre, salta aos olhos...
Ao prado multicor, não há quem resista.
Visão gravada na mente; virou monopólio.

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Sou Do Inverno O Jardim





Eu joguei as minhas pétalas ao vento.
Que essa brisa não te assuste, amor...
São só anéis para não perder os dedos.
E contra as marés, nua, vou ao relento.
Lá enfrentei, com muito tento, toda dor.
Entre brumas, vi em cinzas os medos.

Uma por uma, queimei minhas naves.
Não cabe olhar prá trás; voltar passos.
Algo de mim jaz, intacto, pelo caminho.
Abandonei a carga; aos pés tato suave.
E deixo ao rés do chão alguns pedaços,
com meu aroma: loção de rosmaninho.

Partes à terra vão... Bocadinhos de mim.
Outros germinam; contingências da vida.
Agora hiberno; a inconsciência do sono.
Entorpecendo; sou do inverno... O jardim.
Fênix, voltarei na primavera; renascida...
Novo ciclo: verão e aí anemia do outono.

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Visões De Açúcar




Lembro o céu limpo, nenhuma tormenta à vista.
Vejo a inocência, ilesa, em seu campo de flores.
Ternura sem ânsias ou temores, nada contrista.
Um balanço, ao vento,a alegria sem invasores.

Visões de açúcar vazam no ladrão da memória.
Asas da divina lembrança pairam sobre meu dia.
Dançam na mente os trechos felizes da história.
Eu deixo fluir esse fio, filamento de nostalgia...

...E escoa mel daquela candura que esfumou.
Inunda toda a minha alma;o fim da melancolia.
Fica amortecida a agonia que me amargurou.
Partes perdidas de mim revivo; a dor esvazia.

Mas o rio do tempo não para, água caudalosa.
Extravia a atmosfera em que suspirei encantada.
Guardo o riso na gaveta; retomo a via afanosa.
Outro dia piso novamente a senda açucarada.

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 15 de outubro de 2011

A Salvo De Mim




Alma revela, bem nos primórdios de mim...
...caos, daquela que não sabe ser quem é.
Entrei no labirinto interior e fui pé ante pé.
A casa de Dédalo, não minto, era sem fim.

Mas o despetalar da folhinha tudo altera!
E a saída foi brotando com cada tropeço;
Aos trancos e barrancos; meio ao avesso,
Ariadne me dá o fio; desenleio primaveras.

Foi árduo, mas desembaralhei essa meada!
E entre tantos círculos achei uma linha reta.
Planto meus vínculos com a próxima meta...
Cada alvo tem prevista sua própria chegada.

A salvo de mim arrisco um estado de graça.
Minha seguinte peleja é com o lado de fora.
Sem acintes posso olhar ao espelho, agora.
O que vejo em sua face já não me ameaça.

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A Flor Da Fé




Ah! Vida tão sem nexo; é baú de contradições.
Homens perplexos; ilhas de paz entre furacões.
Realidade com um olho que ri e outro que chora,
deixa na alma tristezas; jasmins do lado de fora.

Mas após o vendaval vem o sopro de esperança,

como depois da tempestade segue uma bonança.
E o nauta já se ergue; pode controlar o seu navio.
Aquele ciclone que então roncava agora fala macio.

Nessa vil ventania voo entre sucessos e fracassos,

vou ao avesso do que se perdeu, destoo ; me refaço.
No meio dessas intempéries, a fé, já quase sem cor,
entre os malogros em série, incrível, planta sua flor.

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Versos Mudos





Certo, um beijo fala mais que palavras.

Os lábios ofertam vozes não verbais.
São versos mudos que na pele lavram
trilhas subliminares, árias incidentais.

Amor não tem léxico; no olhar...Direto.
Seria complexo demais se fosse falado.
Ele dá sinais sem recorrer ao alfabeto.
Legíveis aos olhos; a dois, declarados.

...E no beijo se eriçam cinco sentidos.
É um vínculo que atiça duas metades.
e tatua orvalho nos poros comovidos.
Conjugado no pretérito vira saudade.

Rosemarie Schossig torres

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Respingando Versos




Eu encharquei as minhas palavras no tinteiro.
Depois fui saindo por aí, respingando versos,
no coração de papel, meu pequeno universo,
reino da inspiração, musa, flor desse canteiro.

Versei roseiras, aromas de soneto alvissareiro.
Poemas sem eira nem beira vieram, conversos,
pequenas liras, plantar-se na jardineira,imersos.
Alma floresce em rimas; do som faz seu parceiro.

E nas catorze linhas vou arrimando esperanças.
Abraço da fé, que em cada estrofe vem aninhar
acalentadas utopias; os pés postos na confiança.

Vozes ao vento, um doce acalanto a se propagar.
Em cada folha deito o que no sentimento dança.
Páginas desveladas; o leito do meu eterno sonhar.

Rosemarie Schossig Torres