sexta-feira, 29 de julho de 2011

Rosa Perpétua





Na companhia de qualquer ilusão
...A procissão de mil promessas...
Que ganham espaços no coração
e num abraço as crenças confessa.

Formam par: o sonho, a esperança,
que mesmo vacilando na descrença,
parem utopias; suprem confianças.
Fé cumpre juras de eterna presença.

Sempre viva, a flor que nunca estiola.
Certeza que o seu amanhã persegue.
Rosa perpétua, a pétala que consola,
qual asa perene, no céu prossegue...

Rosemarie Schossig Torres

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Por Uma Fresta No Tempo...



Por Uma Fresta No Tempo...

Por uma fresta que no tempo se deteve,
espreitei o instante agourento, caipora.
Eu o vivi ou foi ele que em mim esteve?
Só um minuto... Para mim foram horas!

Pasma, sombra sem corpo eu vi aparecer.
Rompendo as trevas ; musa dos suicidas.
Uma bruma difusa, que fez a vista arder.
Vislumbrei a sem rosto: antítese da vida.

Não tinha cara ou tez. Eu disse vade retro!
Surgida direto do Hades... A descarnada.
Fera trazendo uma foice em vez de cetro.
Era uma carcaça de ossos feita, mais nada.

Antes dela, passou o Tempo, o seu irmão.
Arcabouço disforme, sem fim, nem início.
Cetim, textura de relógios o seu roupão...
E uma voz de tique-taque! Ilusão, artifício.

Algoz, seu ofício era ir jogando areia fora.
Com a mão enorme quebrava ampulhetas.
E de supetão a vida dos ‘’eleitos’’, devora.
O que poderia ter sido vai direto pra gaveta.

Sombria, então, vinha a diva dos defuntos,
que esquiva, trazia nas mãos um cemitério...
Na travessia a malvada semeava pés juntos,
deixando vidas vazias, concebia necrotérios.

No encalço dessa ‘megera’’ viúvas gemiam.
Ao pé de um cadafalso choravam os órfãos.
Desde o céu uma centena de corvos a seguia.
Ao léu réquiens troavam de aziagos órgãos.

Ah! Ela passou por mim, sem parar, que sorte!
Tão bom ser ignorada por essa fada ao inverso.
Assustada nem podia dizer o seu nome: morte.
Mau sonho! Deixou na boca o gosto do adverso.

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 11 de julho de 2011

VOZES E RESSONÂNCIAS





Cabem insolência; impropério
em ponta de língua ferina.
Mente confusa, que alucina;
falas repartindo despautério.

Todo o amor flui num olhar,
escorrega por gestos incertos,
se esgueira nuns lábios abertos
e dispersa os seus dizeres no ar.

Um réquiem repercute prantos,
sem importar tempo, nem lugar.
Na falta de carpideiras pra chorar
vozes atemporais entoam cantos.

A soma dos melhores momentos,
repercute e ressoa pela vida afora...
Ultrapassa o hoje, atropela o agora.
Paira nos dias, ao sabor dos ventos.

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 9 de julho de 2011

Entre O Abrir E Fechar Das Cortinas




Quero bem amplo o horizonte.
Abro todas as minhas cortinas...
Ao sol os segredos das esquinas.
E está sem brumas o meu monte.

Tenho meus corredores iluminados.
O ar desfazendo queixas inaudíveis.
Desvio dos muros intransponíveis.
Todos recintos livres e ensolarados.

Nada de fantasmas vivendo conosco.
A verdade clara entre nós, reverbero.
O nosso amor num caminho sincero,
sem trastes mofados em espaço fosco.

Mas uma hora as cortinas se fecham.
E a casa com sua vida: fauna e flora,
estão a sós, sem interferências de fora.
Surgem sussurros que cantos guardam.

Resta fazer amizade com suas criaturas.
Habituar-me a seus cochichos sombrios.
Adaptar os ouvidos aos obscuros cicios.
E entre claro e escuro caminhar segura.

Rosemarie Schossig Torres