quinta-feira, 31 de março de 2011

Dia Sem Céu




No dia em que se perdeu de mim o meu amor...
Amanheceu orvalhando; um sereno de tristezas.
A morfina por ironia, com requintes de gentileza,
nem mesmo contando até vinte, reconheceu a dor.

Entardeceu... Fazia sol? Chovia? Era dia sem céu.
Desfolhei três vezes a margarida: ninguém me quis.
Tantos revezes! Reneguei meus sonhos de aprendiz.
Acomodei tudo na mala que sobrou e joguei ao léu.

Do oráculo das pétalas, fui ao de vidro e perguntei:
Quem está no espelho? Duas de mim se olharam;
todos os meus olhos se viram; depois estranharam.
E com quatro pedras na mão, enfim, eu me espatifei.

No breu fiquei perdida... Um segundo, sem endereço,
sem mundo, em partes, saí de mim, olhei-me de fora...
Por dentro me vi; divisei o amor perdido, sem aurora.
No centro da dúvida aflora a resposta e o recomeço...

Rosemarie Schossig Torres