quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

São Outros Tempos...



Pode haver poesia numa estação.
A confiança faz rimas pelos trilhos,
falando às ânsias de doridos idílios,
que ressoam, saltitam no coração.

Essa espera é capaz de ser canção.
Sons tristes, ledos, proliferam; filhos
de uma emoção, distribuindo brilho,
consonâncias dos que vêm e vão...

Para mim tudo isso é só melancolia.
Os apitos me lembram o último trem,
quando me legaste esta nostalgia.

Tristeza que motivos de sobra tem...
Eu sei que esperança é uma fé vazia.
São outros tempos e tu já não vens.

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Alma Sem Dono




Solidão é só estar
E não ser...
Se tenho o entardecer
prá contemplar...

Entra pelos olhos
colore as retinas
retira os abrolhos
de minhas esquinas...

Abandono é tingir
a alma sem dono
no azul a fulgir...
Dormir nesse trono...

Olvido é só entrega
a esse vale verde
que nunca se nega
a matar minha sede...

Então... O estar só
não é amargar solidão
mas se largar , sem dó.
Ser gás, ar ; amplidão.

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Máscara Guardada





A máscara está jogada num canto.
Espera até que chegue a sua hora.
Será quando aflora o desencanto...
Aí virá falsificando risos de outrora.

Farsa necessária; evita perguntas.
E levita ante o rosto triste a alegria,
tampa desgostos; as sortes defuntas;
sob o tapete sujidades da melancolia.

Júbilo em falsete; descontenta o rival.
Ostenta na face as cores da ventura,
tintas estudadas( a vida segue igual...).
Em cima da tristeza camadas de pintura.

Por agora segue a máscara guardada...
Não é preciso usar essa casca; que bom!
O azar, indeciso, dança; perdeu a jogada.
Os guizos da bonança impõem o seu tom.

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Quase Risonho




A vida tece talagarças de desencanto.
Farsa em inumeráveis atos; em anexo
semeia nas poças o insensato, reflexo
cru, que empoça em alagados cantos.

A realidade nada sabe de acalantos...
Nas ruas, não cabe poesia, complexo
demais para o chão, já tão sem nexo,
que vai rimando fome com quebranto.

E quem liga para verso, consonância?
Imerso, no útero das esquinas, sonho
vai a esmo, ao sabor da circunstância.

Vive das migalhas dos dias tristonhos.
De vez em quando, entre reentrâncias,
seu raio de luz, surge, quase risonho...

Rosemarie Schossig Torres

Duas Chamas Abrasadas



Em teu lago eu me afogo
e com o teu fogo, jogo...
Dançamos com as labaredas.

Tranças de seda, borboletas.
Vão inventando piruetas...
Portando suas almas ígneas.

Palmas ao amor, insígnias...
Mostram seu fulgor, dignas!
São duas chamas abrasadas.

Até a lua queima, enlevada!
Teima a brasa; consome o fogo.
Em casa segue com fome o jogo.

Rosemarie Schossig Torres