quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Jardineiras Andarilhas



O meu jardim dos sonhos...
No terreno do incerto plantei.
E alegrias sempre-vivas semeei
em canteiros de dias tristonhos.

Rosa aberta na agonia se arraigou.
Pétalas brancas, de paz, vingaram.
Esperanças, em ramas, medraram.
Vergel , adubado na fé, prosperou.

Culpa dessas perpétuas, teimosas,
que em solo inóspito já vão florindo.
Amenos percalços; quase sorrindo.
Já não temo essas rotas espinhosas.

Feito um heliotrópio, o meu coração
para o sol se virou, o campo minado
de desenganos, de flores adornado,
amores colheu; alumiou a desolação.

E jardineiras de jasmins, andarilhas,
Levo comigo ; a minha estrela faísca
com belas promessas;lanço a isca
e pesco felicidade com buganvílias.

Rosemarie Schossig Torres

O Poço Da Catarse




Faltavam apenas cinco passos
e te abririas pra mim, Parnaso!
Mas eu me assustei; senti frio.
Soltei régua, compasso; arrepio.

Então quis a poesia pé no chão;
cantoria de cego em velho violão.
Escrever à musa rota da esquina.
Noctâmbula em busca de propina.

E corri do verso exato, parnasiano.
Feito contador que foge do engano.
Como o diabo, que corre da cruz...
Eu quis, feito morcego, fugir da luz.

Abracei as trevas do verso tateado;
inexato; trôpego; apenas balbuciado.
Nessa corda bamba estou equilibrista,
pra que do poço da catarse saia artista.

Rosemarie Schossig Torres

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ÁCIDO AÇÚCAR






A vida me brinda drinques de fel.
Osculo suas taças; acerbo absinto
vaza das horas; bebo o coquetel,
e já no ácido açúcar eu pressinto.

Intercaladas aos dias de angostura
acho tréguas de mel nessa mistura.

Tempo passa alternando paladares.
Sou a marionete; a anã do picadeiro.
Recebo o beijo, o tapa; todos os ares.
Após as flores, à socapa, o espinheiro.

Segue o cortejo aleatório; a aventura
de estar viva, festejo, até com agruras.

Rosemarie Schossig Torres

sábado, 11 de setembro de 2010

Flores De Trapo



Da teia dos dias cinzentos
tecia suas flores de trapo.
Ela nem via os farrapos,
que vida cosia ao relento.

Com olhos postos no céu
vivia. Seus pés na desolação
quase nem sentiam o chão.
Protegia alma com um véu.

Entre o delírio e o passional
balançava ; arame inseguro.
Mas sua fé cega, no futuro,
dava-lhe poder paranormal.

Rosemarie Schossig Torres

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Névoa De Um Sonho Antigo



Imaginei-te doce e nobre amigo...
Não importava que fosses invisível.
Fiz-te da névoa de um sonho antigo.
Companhia, ombro imprescindível.

Depois bordei em imaginário cetim
as armas de anjo protetor, tua arte
de guardar a sete chaves, querubim ,
os corações feridos em teu baluarte.

Junto forjei a máscara de felicidade,
que visto, e oculta, por trás do riso,
minha cara magoada, a de verdade.
Cobertura para meu esgar indeciso.

Falta a essa quimera sopro de vida,
como o poeta reverbera em poesia
o alento de sua musa preferida...
Pobre de mim! Não sei idear magia.

Rosemarie Schossig Torres

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Essências De Sonho



No fundo do espelho corre um rio.
É o tempo que flui com a memória.
Aí mergulho sem asas; nenhum fio.
Sou absorvida pela minha história.

E volto a antigos quintais; infância.
Alma que jamais viu a dor de perto.
Sinto calma em toda sua fragrância.
O medo ainda não foi descoberto...

Lá o riso segue capturando libélulas.
Reencontro pequeno jardim intacto
Imaculados jasmins; pétalas; células.
Refaço comigo aquele antigo pacto...

Ajuste renovador; viagem providencial
para enxertar no vergel da maturidade
aromas de inocência; tônico primordial.
Essências de sonho; elixir da felicidade.

Rosemarie Schossig Torres