terça-feira, 15 de junho de 2010

Grito Parado No Ar



Ontem vi um grito parado no ar.
Fatídico punhado de medos...
Inerte, bem diante de meus olhos.

Trazia em seu ventre maldito,
sinistra mensagem criptografada,
arautos espantosos, de más notícias,
que apunhalaram o sossego da noite.

Apesar de minha grande ignorância,
tentei decifrar seus tristes arcanos.
Pobre de mim! Foi tudo em vão.
Não achei neles significado algum.

Com a alma atormentada
por essa triste visão,
vaguei a esmo, buscando uma saída.

Recorri aos sábios e seus oráculos.
Eles me viraram as costas
e rindo-se disseram:
Ah! esquece... Isso não é nada.

Rendida, falei à minha própria sombra:
Esses seres, que tudo adivinham,
devem ter razão.
Quem sabe… Foi só um pesadelo.

Mas, quando a insônia invade
as minhas madrugadas...
Vejo, outra vez, entre as trevas,
aquele grito parado no ar.

Nau tétrica, que me assombra,
apregoando temor e claustrofobia.
E penso: Que será isso?

Rosemarie Schossig Torres

terça-feira, 8 de junho de 2010

O Poeta E A Folha Em Branco


Um dia, sem querer, nem pensar,
a página vazia enfeitiçou o poeta.
Fez-se imã, gravitação a lhe aliciar,
seduzindo as idéias; atingiu a meta
de ser espelho do verso a se olhar.

Dialogando com o coração de papel
(que não sabe chorar, nem sofrer),
ele quis cercar a dor; dissecar o fel.
E nas linhas do retângulo, converter
os agravos do efeito esponja em mel.

Então a folha foi virando um divã,
onde palavras tristes se deitavam.
Falando ao psiquiatra mudo, em sãs
e belas iam se tornando, brilharam.
Aquela ouvinte ele chamou de irmã.

E foi plantando dilemas no espaço,
que converteu em metáforas, rimas.
Um solo fértil; dos versos o regaço.
Nova imagem ao espelho se arrima.
Poeta já se vê, ainda que meio baço.

Rosemarie Schossig Torres

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Versos Tagarelas


A minha poesia fala, diz pelos cotovelos.
Conversa comigo e cochicha até contigo,
leitor , pra quem tece idéias em novelos.
Ela tem o olho virado prá fora do umbigo.

Meu verso é tagarela; às vezes fala demais.
Por ter tanto a dizer , se enreda, complica.
Enchente de palavras; histórias torrenciais.
Fala que muito discorre, mas nada explica.

Às vezes despe a seriedade; quer brincar.
Menino levado que tem forma de poema;
inventa firulas verbais; rima para bagunçar.
Chama as letras para dançar com um tema.

Fofoqueiro é meu verso ; até confessional.
Derrama-se num papel; não guarda segredo.
À flor da pele, nas linhas deita o emocional.
Hiperativo, faz a poetisa acordar bem cedo.

Rosemarie Schossig Torres

A Mística Das Idéias



Volutas no ar, soberbas espirais,
chegam idéias em aéreo caminho,
sopradas pela musa, com carinho.
Versos voláteis vindo pelos vitrais.

Vem pairando, em vôos desiguais.
Às vezes rápido, ora devagarzinho,
poemas vozeiam ou são quietinhos,
brotam vindos de diferentes canais.

Sempre são bem-vindas inspirações,
que trato com uma veneração lírica.
Mística além de mim, das amplidões.

Palavras que ultrapassam a empírica.
Procedimento sem lógica explicação.
Talvez criação de minha alma onírica.

Rosemarie Schossig Torres